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Dizem que a conexão entre Índia e Brasil vem desde o suposto acidente que fez com que os portugueses conhecessem o nosso país em 1500, mas só em 2009 a relação entre os colegas de BRICS foi intensificada. O motivo? “Caminho das Índias”, novela da Globo assinada por Glória Perez, que foi sucesso de audiência dentro e fora do Brasil, recebendo o primeiro Emmy Internacional do país na categoria de Melhor Telenovela.

A trama centrada no triângulo amoroso entre Maya (Juliana Paes), Raj (Rodrigo Lombardi) e Bahuan (Márcio Garcia) foi responsável por criar uma “febre indiana” no Brasil. Durante a exibição do folhetim, expressões, vestimentas, acessórios e até a música do país, aspecto que vamos destrinchar agora, se tornaram parte do cotidiano popular. Se bateu saudades da novela, assista “Caminho das Índias” no Globoplay.

A melhor trilha sonora internacional das novelas da Globo?

Capa de um dos DVDs piratas daquela época. Fonte: gatomiadvdcover

Na humilde opinião do editor, sim: a trilha sonora internacional de “Caminho das Índias” é a melhor feita pela Globo. Muitos podem dizer que “O Clone” é a novela “de núcleo internacional” mais popular feita pela emissora – o que eu não negaria – mas a verdade é que o impacto cinematográfico dela parece muito maior e melhor do que o musical.

Apesar da minha memória afetiva não ser tão grande por conta da idade (eu tinha quatro anos quando ela foi veiculada), a memória coletiva de “O Clone” pouco parece remeter ao fato de que ela se passou no Marrocos – e sim, no “mundo árabe” como um todo. Musicalmente, a história é parecida.

“Nour El Ain”, que serve como um dos exemplos que se repetem na trilha, é um dos grandes hits internacionais de “O Clone”, mas o cantor dela é egípcio. Outros podem contestar ao dizer que um dos maiores hits em línguas alternativas no Brasil foi em árabe (“El Arbi”, do argelino Khalid) e com a ajuda do folhetim, mas a verdade é que a música começou a bombar em 1999, anos antes da veiculação de “O Clone”. A canção posteriormente foi incluída na novela “Vila Madalena”, que ocupou a faixa das sete entre novembro de 1999 e maio de 2000, e nunca entrou na novela marroquina.

Essa pequena divagação foi feita apenas com o objetivo de qualificar ainda mais a trilha sonora de “Caminho das Índias”. Pela singularidade do país asiático, a Globo acabou entregando um conjunto de músicas coeso e que foi veiculado na novela com frequências praticamente parecidas entre si. Ouvimos “Kajra Re” tanto quanto “Beedi”, música da abertura.

É importante que se entenda: não acredito que a Globo errou ao escolher a trilha de “O Clone”, já que o Marrocos é um país árabe e naturalmente compartilha hábitos musicais parecidos com outras nações próximas. Criticar isso seria tão leviano quanto dizer que uma novela que se passa nos Estados Unidos precisaria ignorar Adele e Kylie Minogue por mera questão de nacionalidade. Entretanto, “Caminho das Índias” apresentou ao Brasil uma nação imensa que vai além da superficialidade de uma foto do “Taj Mahal”, fazendo com que todo o país dançasse ao som de um pop essencialmente indiano. A fidelidade da representação cinematográfica é contestável, mas “Caminho das Índias” musicalmente deixa pouca margem para crítica.

Pop indiano e suas peculiaridades

Ao contrário de basicamente todos os mercados fonográficos, a Índia é essencialmente baseada em trilhas sonoras. Com a pujante Bollywood e a produção de ao menos mil filmes por ano, o formato responde por 80% das receitas feitas pela indústria. Só tem música pop se tiver filme, e vice-versa.

Outra grande característica do pop indiano é a excessiva “cultura do single”, que é muito diferente do formato tradicional que estamos acostumados no ocidente (com os grandes artistas e seus repertórios). O motivo é simples: como a música é toda voltada aos filmes, mas nem todos os atores sabem cantar, as dublagens são muito comuns. Estes artistas acabam sendo o rosto principal destas trilhas – que na verdade são produzidas por “playback singers”. Por conta disso, chega a ser desafiador tentar descobrir quem realmente está cantando em uma música indiana ou não.

Por exemplo, veja “Dilbar”, um dos maiores hits indianos dos últimos anos. O nome da cantora, Neha Kakkar, é quase secundário no título do vídeo, que prefere privilegiar os atores principais do filme “Satyameva Jayate”. Esta é uma característica bastante única da música feita na Índia e que pode ser um empecilho aos que são iniciantes no pop do país.

Relembre a trilha de Caminho das Índias

O Kolibli está nostálgico ao lembrar dos ambulantes que vendiam DVDs com a trilha indiana de Caminho das Índias e trouxe uma playlist no Spotify para que você mate a saudade da novela. Confira:

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Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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