Chegou a hora de fechar a série de postagens do #2020InReview com a lista mais importante de todas. Selecionamos 50 bons álbuns com uma preocupação maior em indicar projetos novos do que cravar pretensiosamente o que é de fato o melhor ou não, já que não pudemos ouvir tantas coisas assim. As escolhas são feitas de acordo com o gosto pessoal, como deve ser, mas também levam em conta uma visão crítica sobre o álbum e a sua temporalidade. EPs com cara de álbum e CDs ao vivo que não soam tanto como compilações estiveram aptos a participar da lista.
A seleção conta com álbuns de mais de 20 países, de todos os continentes, em diversos idiomas, já que a nossa filosofia preza pela diversidade geográfica e social. Aqui estão os 50 projetos selecionados com algumas menções honrosas:
Clique aqui para ouvir a playlist no Spotify com todos os álbuns
Menções Honrosas
“Circles” — Mac Miller (Estados Unidos)
“A Written Testimony” — Jay Electronica (Estados Unidos)
“Jerusalema” — Master KG (África do Sul)
“The Ascension” — Sufjan Stevens (Estados Unidos)
“Superstar Show [Live]” — Loboda (Ucrânia)
Top 50
50. “Plastic Hearts” — Miley Cyrus
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: pop com atitude rock
49. “До свидания” (Do Svidaniya)— IC3PEAK
País: Rússia / Para quem gosta de: pop russo, músicas em ritmo de protesto
48. “Twice as Tall” — Burna Boy
País: Nigéria / Para quem gosta de: afrobeats, pop nigeriano
47. “Untitled (Black is)” — Sault
País: Reino Unido / Para quem gosta de: neo-soul
46. “Neyslutrans”— Hatari
País: Islândia / Para quem gosta de: futurepop, aggrotech
45. “ YHLQMDG” — Bad Bunny
País: Porto Rico / Para quem gosta de: reggaeton
44. “Set My Heart on Fire Immediately” — Perfume Genius
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: art pop
43. “Punisher”— Phoebe Bridges
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: indie folk
42. “Inteiro Metade”— Tagua Tagua
País: Brasil / Para quem gosta de: pop psicodélico
41. “Room for the Moon”— Kate NV
País: Rússia / Para quem gosta de: art pop, pop nostálgico
40. “We Are Sent Here By History” — Shabaka and the Ancestors
País: África do Sul / Para quem gosta de: jazz africano
39. “7 (Part 2)” — Artik & Asti
País: Ucrânia / Para quem gosta de: pop russo
38. “ kIcK I”— Arca
País: Venezuela / Para quem gosta de: deconstructed Club
37. “Live Concert (Mega)”— Konstantinos Argiros
País: Grécia / Para quem gosta de: pop grego, laika
36. “Halak Halak” — Zenobia
País: Palestina / Para quem gosta de: dabke, pop árabe
35. “Bivolt”— Bivolt
País: Brasil / Para quem gosta de: rap nacional, pop rap, r&b
34. “L’ère du verseau” — Yelle
País: França/ Para quem gosta de: synthpop, pop francês
33. “111”— Pabllo Vittar
País: Brasil / Para quem gosta de: pop farofa, pop nacional
32. “After Hours” — The Weeknd
País: Canadá / Para quem gosta de: R&b alternativo, pop nostálgico
31. “Keleketla!”— Keleketla!
País: África do Sul, Nigéria, Reino Unido / Para quem gosta de: afro-jazz, afrobeat
30. “O líder em movimento” — BK
País: Brasil / Para quem gosta de: rap nacional
29. “Piseiro 2020 Ao Vivo” — Barões da Pisadinha
País: Brasil / Para quem gosta de: forró eletrônico, pisadinha
28. “Good News” — Megan Thee Stallion
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: rap americano, pop rap
27. “Alicia”— Alicia Keys
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: r&b contemporâneo, adulto contemporâneo
26. “Desejo de lacrar”— Negro Leo
País: Brasil / Para quem gosta de: rock alternativo
25. “Shore” — Fleet Foxes
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: folk
24. “Zan” — Liraz
País: Irã, Israel / Para quem gosta de: pop persa
23. “111 DELUXE”— Pabllo Vittar
País: Brasil / Para quem gosta de: pop nacional
22. “Visions of Bodies Being Burned” — clipping
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: rap alternativo, horrorcore
21. “Migrant Birds” — TootArd
País: Síria / Para quem gosta de: pop árabe, disco music
20. “Хошхоног” — Hasky
País: Rússia / Para quem gosta de: rap alternativo, rap russo
19. “Ностальгия” — Hadn Dadn
País: Rússia / Para quem gosta de: art pop, indie pop
18. “Petals for Armor”— Hayley Williams
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: pop, dance alternativo
17. “Fetch the Bolt Cutters — Fiona Apple
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: art pop
16. “The New Abnormal” — The Strokes
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: indie rock, post-punk
15. “Miss Colombia” — Lido Pimienta
País: Canadá, Colômbia / Para quem gosta de: art pop, música eletrônica latina
14. “Shabrang” — Sevdaliza
País: Irã, Holanda / Para quem gosta de: art pop, trip hop
13. “Sawayama” — Rina Sawayama
País: Reino Unido, Japão / Para quem gosta de: pop nostálgico, mistura de gêneros
12. “La vita nuova (EP)” — Christine and the Queens
País: França / Para quem gosta de: synthpop
11. “Calambre” — Nathy Peluso
País: Argentina / Para quem gosta de: r&b alternativo, pop rap, pop latino
10. “Colours and Sounds” — Niniola
País: Nigéria / Para quem gosta de: afrobeats, pop nigeriano
A evolução de Niniola em seu segundo álbum mostra que ela cansou de dominar a Nigéria — o país já é dela. Conhecida como a “rainha da Afro-House” (e ai de quem duvide disso), a cantora emenda colaborações com os quenianos do Sauti Sol, a diva da house sul-africana Busiswa e o produtor Timbaland, mostrando que a sua autenticidade e segurança em criar hits para as pistas já não cabe mais em Lagos (e, talvez, nem na África mais).
9. “1990“— Max Barskih
País: Ucrânia / Para quem gosta de: pop
Ainda que “1990” não tenha sido o “clássico” que esperávamos a esse ponto na carreira bem sucedida de Max Barskih, ele entrega um bom arroz com feijão que muitos no pop do Leste Europeu não conseguem fazer. “1990” fecha uma trilogia que começou no álbum “Tumany” e pode ser a última empreitada dele em russo, já que Max anda acenando para o mercado internacional com o lançamento de alguns singles em inglês (portanto: aproveite!).
8. “What’s Your Pleasure” — Jessie Ware
País: Reino Unido / Para quem gosta de: pop chique, pop atmosférico
Dentre os álbuns nostálgicos de 2020, “What’s Your Pleasure” pode ser considerado um meio termo entre o mainstream exacerbado de “Future Nostalgia” e as experimentações do “Roisin Machine”. Ele não é tão dançante e grudento como os citados, mas também passa longe de ser um projeto inacessível ou entediante. Assim como o primeiro single e música de abertura, “Spotlight”, o tom do álbum é bastante atmosférico, formado por um misto de referências dos anos 70 e 80 que fazem com que ele seja praticamente como aquela festinha mais particular com os amigos, revendo fotos e vídeos antigos, mas mantendo o apelo pela dança e o movimento.
7. “Disco” — Kylie Minogue
País: Austrália / Para quem gosta de: pop, disco music
A essa altura do campeonato, Kylie Minogue não precisa mais provar nada a ninguém — e ainda mais quando o assunto é disco music. Logo ela que tem “Light Years” e “Fever” em seu catálogo? Portanto, quando você entende que “Disco” é apenas uma remontagem de algo que já foi sucesso, sem tentar inovar ou criar tendências novas, a experiência com ele tende a ser mais honesta e satisfatória.
Se faltou sustância no álbum anterior, em “Disco” Kylie entrega carisma, humor e muita segurança. Servem como bons exemplos as músicas “Real Groove” e “Last Chance”, mas a cantora também soube criar um tom de melancolia bem calculada no fim do álbum com a música “Celebrate You”. No geral, “Disco” é quase como assistir um jogo beneficente com aquele jogador aposentado que faz uma jogada incrível e mostra que continua sendo o mesmo craque de sempre. Só que ao contrário dele, Kylie continua na indústria mostrando a cada álbum novo que ainda tem muitos gols a fazer.
6. “Future Nostalgia”— Dua Lipa
País: Reino Unido / Para quem gosta de: pop, nu-disco
Dua Lipa é uma artista interessante desde o lançamento do single “Be the one” (2015), mas só com o lançamento de “Future Nostalgia”, segundo álbum da cantora, é que o seu patamar foi elevado de vez. “Future Nostalgia” é um projeto redondinho, muito bem produzido e escrito, que com méritos é o mais bem sucedido entre os “nostálgicos” lançados em 2020. É um álbum que mostra a outros colegas de profissão que ainda é possível criar músicas de forte apelo popular e visão além do alcance que consigam permanecer na memória coletiva por mais que uma temporada.
5. “Róisín Machine” — Róisín Murphy
País: Irlanda / Para quem gosta de: disco music, house
“Róisín Machine” é o álbum perfeito para aqueles que gostam da “onda nostálgica” encabeçada pela disco music em 2020, mas gostariam de um lado mais fiel às pistas dos anos 70 a 90 — ou, até, com um toque mais experimental. Com quase 30 anos de carreira, Róisín ainda consegue tirar da cartola um projeto encorpado que força o ouvinte a tentar entendê-lo, como se contasse com uma espécie de “porteiro de festa” dentro dele. Se você passar desta primeira barreira, sua experiência será muito proveitosa no universo confessional e escapista de Roisin Murphy.
4. “BRIME!” (EP)— CESRV, Febem, Fleezus
País: Brasil / Para quem gosta de: rap nacional, grime
E se a grime do Reino Unido fosse abrasileirada? Foi assim que surgiu o EP “Brime!”, idealizado pelo produtor CESRV e os rappers Febem e Fleezus. A iniciativa não só deu certo, como também tem cara de “momento histórico”, já que a colaboração praticamente criou um gênero novo. Ao contrário de muitos rappers brasileiros que preferem mimetizar tudo que se faz nos Estados Unidos; CESRV, Febem e Fleezus buscaram na Europa e em outros circuitos alternativos o som original que procuravam. Mesmo com apenas 20 minutos, o EP tem cara de álbum e conta com mesclas frenéticas entre o grime, o funk brasileiro, afrobeats e outros ritmos que fazem desta salada muito criativa. É um momento que com certeza será muito bem lembrado daqui a cinco, dez, vinte anos na parede dos clássicos do rap nacional.
3. “Ungodly Hour”— Chloe x Halle
País: Estados Unidos / Para quem gosta de: r&b dos anos 90, 2000 e em gera
“Ungodly Hour”, segundo álbum das irmãs Chloe e Halle Bailey, é uma jornada de amadurecimento que serve como um poderoso “rebranding” para estas garotas. Já no título do álbum, as irmãs tentam desmanchar a imagem de anjinhos da Disney e convidam outras pessoas a descobrirem que tá tudo bem em não ser perfeito. Durante o álbum, elas mostram que se tornaram mulheres adultas, empoderadas e até com tendências criminosas (ironicamente) como na canção “Tipsy”. A produção remete aos bons clássicos do r&b feitos nos anos 90 e 2000, mas o essencial para o sucesso deste anseio nostálgico de Chloe e Halle mora nos vocais poderosos das duas, com harmonizações de cair o queixo durante todo o projeto — e claro, balançar os quadris e entrar na dança.
2. “Un Canto Por México, Vol 1” — Natalia Lafourcade
País: México / Para quem gosta de: mariachi, son jarocho e outros ritmos mexicanos
Quem se interessa por música da América Latina não pode deixar de ouvir “Un Canto Por México Vol.1”, álbum da cantora Natalia Lafourcade que fora reconhecido pelo Grammy Latino com o gramofone de “Álbum do Ano”. Aqui, o projeto bateu na trave, mas não deixa de ter muitos motivos para ocupar um espaço como tal. Lafourcade há um tempo vem criando músicas ligadas aos diversos ritmos mexicanos, e em “Um Canto Por México Vol.1” ela segue esta incursão, concebendo um projeto híbrido de gêneros regionais como a mariachi e o son juacho com covers, regravações de canções próprias e lançamento de outras inéditas. Por toda a quase uma hora de álbum, não falta alma e sentimento em um segundo de “Un Canto Por México Vol.1”, fazendo com que o ouvinte sinta todo o amor de Natalia pela sua cultura — e até, quem sabe, comece a nutrir um carinho parecido pelo país.
1. “ Soul Lady”— Yukika
País: Coreia do Sul, Japão / Para quem gosta de: k-pop, city pop, pop nostálgico
Pensamos muitos dias sobre qual álbum colocar como o maior lançado em 2020, mas essa foi uma tarefa bem complicada. Ao contrário de 2018 e 2019, anos em que “consagramos” os álbuns “El Mal Querer” e “Sandokushi”, nenhum projeto lançado neste ano deu aquele “click” ou aquela sensação de que não há outra alternativa a não ser “tal álbum”.
Esse é um processo natural, muito ligado ao fato de que música é algo subjetivo, então nem sempre surgirá um álbum indiscutível em determinado ano. Isso não quer dizer que o período tenha sido pobre em histórias interessantes. Aliás, 50 destas histórias foram relatadas aqui nesta lista, mas a escolha deste ano levou em conta a maior graça por trás disso tudo: imprimir o que foi o ano de verdade e encontrar algo que resuma tudo que foi feito neste período. Dentre todas estas opções, o debut da cantora sino-coreana Yukika pareceu ser a mais indicada para ocupar este espaço.
“Soul Lady” é mais um destes álbuns que flutuaram na tendência “disco nostálgica” de 2020, mas aqui vimos algo diferente. Primeiro, a sensação de ouvir um álbum fechado e instantaneamente clássico no K-pop, gênero que muitas vezes privilegia os mini-álbuns e singles, deixando projetos mais encorpados de lado, mesmo que “Soul Lady” também seja um projeto relativamente curto.
Em segundo lugar, a influência disco neste álbum não é bem disco assim, mesmo que fique a impressão. O som que a cantora tentou buscar é uma outra tendência retrô na Coreia do Sul: a retomada da city pop, gênero japonês originado nos anos 80 que mesclava jazz, blues, synthwave e pop, servindo como um resultado natural da sociedade que emergia economicamente na nação nipônica.
Japonesa de nascimento, Yukika criou um conceito que se encaixa perfeitamente em suas características. Construiu um álbum que brinca com o fato de ter duas nacionalidades — “Soul” na verdade é um trocadilho com Seul, capital da Coreia do Sul— mas as referências não param por aí. Na abertura do álbum, escutamos o som de um avião decolando e o título deixa claro que a cantora saiu do aeroporto de Tóquio e está indo direto para o de Seul.
A partir deste momento, difícil é encontrar defeitos em “Soul Lady”. Os vocais doces e a persona ingênua construída por Yukika casam perfeitamente com a temática geral, seja em momentos dançantes como na faixa-título, ou em baladas como “Cherries Jubiles”. O álbum estabelece ligações com os anos 80 do Japão, mas não deixa de fazer com que essa mistura soe atual, como na moderninha “pit-a-pet”. Quando se chega no fim do projeto, ficamos apenas com a sensação de que ele poderia ser maior, algo que significa ainda mais nestes tempos “líquidos” (perdão, Bauman) onde todo tempo livre é ouro. “Soul Lady”, acima de tudo, é um álbum de estreia que poucas artistas fazem — sobretudo no K-pop — e por isso, é o álbum do ano do Kolibli.
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