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Com recorde de rejeição, Karol Conká é a quarta eliminada do BBB 21 com 99,17%
Foto: Reprodução/Globo

23 de fevereiro de 2021: o dia da eliminação de Karol Conká no Big Brother Brasil é um acontecimento que marca a história recente da televisão nacional. Após uma série de comportamentos lamentáveis com dois participantes (Lucas Penteado e Juliette), a rapper paranaense conseguiu unir o país em torno da própria saída do programa. Mesmo com os comentários xenofóbicos sobre o jeito como Juliette se expressava, foi o caso Lucas que acabou elevando a rejeição da cantora, posteriormente eliminada com 99,17% dos votos – recorde de todas as edições. A saída da cantora representou um ápice na cultura de cancelamento das redes sociais e fez com que muitos se perguntassem: quem vai ter coragem de ir para os próximos BBBs (e ainda mais, sendo um artista)? Quem vai arriscar jogar uma carreira fora em questão de dias?

A resposta é: quem não? Os números feitos pelos cantores nas plataformas de música e em suas redes sociais mostram que o cancelamento é mais brando do que se espera. Para começar a análise, vamos pegar o próprio caso de Karol Conká, já que é de longe o mais extremo. Após a eliminação, a cantora amargou perdas de contrato que poderiam render um prejuízo de até 5 milhões de reais e uma crise de imagem que parecia irreversível. A própria Globo, por meio do canal por assinatura GNT, suspendeu um programa que teria a apresentação da cantora, que a essa altura ainda estava confinada. Entretanto, após a saída de Karol do BBB, a emissora assumiu um papel de anjo da guarda da cantora (com custos, claro). Ela prontamente foi colocada em grandes programas da grade, como o Fantástico e o Domingão do Faustão, recebendo ainda um contrato para uma série documental no Globoplay, onde ela contará sobre a experiência no reality.

Músicos e o seu maior capital

Ao contrário dos influenciadores digitais, os artistas têm um grande aliado para as crises que possam aparecer durante a carreira (sejam elas do tamanho da que Karol Conká passa ou não): as músicas. Mesmo “cancelando” certo cantor, o público após dias, semanas ou meses volta a consumir o produto mesmo com nariz torcido. Conká, por exemplo, ostenta o trunfo de ter um álbum aclamado como “Batuk Freak” em sua discografia, fazendo com que muitos retornem aos projetos dela como se fosse uma espécie de Azealia Banks brasileira. E mais: Karol teve uma projeção que ultrapassa o espaço do rap brasileiro e passa a se tornar um assunto nacional. Os próximos passos de sua carreira serão analisados de perto, positivamente e negativamente, por um bom número de pessoas e por tempo indeterminado.

Após os primeiros dias de turbulência pós-eliminação, a rapper sumiu das redes sociais. Voltou apenas quando algumas de suas falas no programa viralizaram nas redes sociais – a primeira grande vitória na gestão de crise de imagem da cantora.

A música, entretanto, é até muitas vezes responsável pela ausência de cancelamento formal. O caso Rodolffo, participante eliminado na última terça (06) após uma série de comentários homofóbicos e racistas, mostra como o público brasileiro tem prioridades éticas um tanto complexas. Sarah, participante eliminada na semana anterior em um paredão contra o cantor, fez uma porcentagem consideravelmente maior que a dele (76% a 22%). Ambos tiveram comentários equivocados, mas Sarah foi eliminada em sua maioria por conta da inimizade com a favorita do público, Juliette, que hoje conta com um verdadeiro exército virtual.

A exposição em rede nacional do comentário racista feito para o participante João Luiz foi crucial para a saída de Rodolffo, mas quase não foi suficiente, resultando em uma eliminação com rejeição relativamente baixa (50,48 %). Ainda é difícil entender se o cantor realmente compreendeu as críticas feitas aos comentários, mas boa parte do público viu sinceridade nas desculpas do cantor, que ganhou mais de 1 milhão de seguidores após a eliminação. O hit “Batom de Cereja”, parceria com o cantor Israel no projeto paralelo dos dois, se tornou uma das músicas mais tocadas no país (no momento da publicação desta matéria, ela ocupa a primeira posição no Spotify Brasil com mais de um milhão de reproduções diárias).

Apesar da ligação afetiva do público ser importante na baixa rejeição de Rodolffo, também é preciso destacar o forte corporativismo dos “colegas” do sertanejo brasileiro, que ficou escancarado nas reações de Marília Mendonça ao programa nos últimos dias.

Pro Rodolffo não teve bolinho de eliminação. Foto: Twitter/Conta Pessoal

Moral da história

A verdade é que, como tudo no Brasil, as relações de empatia do público giram muito em torno de forças difíceis de se prever. O país que premiou Paula Von Sperling em 2019 é o mesmo que consagrou Thelma Assis em 2020. Se você, artista, andar na linha e evitar (risos) comentários preconceituosos (e principalmente a tão “supervalorizada falsidade”), é muito difícil não ser beneficiado com a exposição do Big Brother. Entretanto, esteja preparado para os recortes de raça, sexualidade e gênero do público em um programa como esse, pois tem muita gente podre esperando um deslize seu para cometer crimes e preconceitos, cheios de pesos e medidas diferentes.

Ouvintes mensais dos artistas do BBB no Spotify x Cancelômetro (08/04)

Karol Conká (eliminada) – 437 mil ouvintes mensais

Motivo da saída: comentários xenofóbicos com Juliette e tortura psicológica com Lucas Penteado.

Projota (eliminado) – 2,9 milhões de ouvintes mensais

Motivo da saída: série de ações equivocadas e vergonhosas, como a arrogância com Lucas Penteado e o paladar infantil do “muleque de vila”.

Rodolffo (eliminado)- 7,3 milhões de ouvintes mensais

Motivo da saída: comentários homofóbicos e racistas feitos na casa.

Pocah (ainda no BBB) – 1,8 milhão de ouvintes mensais

Possíveis motivos de uma futura saída: apesar de estar envolvida na crise de Lucas Penteado, Pocah é uma participante que ficou marcada pelas leituras incorretas sobre o jogo e por ser “planta”, passando boa parte do tempo dormindo na casa.

Fiuk (ainda no BBB) – 369 mil ouvintes mensais

Possíveis motivos de uma saída: apesar de ser um dos primeiros favoritos, Fiuk foi criticado pela “militância” forçada feita na casa e recentemente teve brigas com Juliette, a favorita do público.


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Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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3 thoughts on “Por que eu duvido que cantores deixem de participar dos próximos BBBs

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