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Na última terça-feira (23), a Recording Academy (Academia de Gravação) revelou os indicados nas 86 categorias ao 64° Grammy Awards, que ocorrerá em 31 de janeiro de 2022 (veja a lista completa aqui). Como a temporada de elegibilidade para esta edição (1° de setembro de 2020 a 30 de setembro de 2021) não foi das mais geniais para o mainstream musical estadunidense, não esperávamos uma tabela de indicados tão boa quanto a de 2020. O resultado, entretanto, conseguiu decepcionar ainda mais e deixou a premiação com cara de churrascão entre amigos – você entenderá o motivo.

Antes de tudo, vale lembrar que a Academia fez mais uma mudança importante para deixar o Grammy mais transparente e justo: o fim dos comitês secretos que preparavam a lista final de indicados. O boicote ao The Weeknd na edição de 2020 ficou muito feio para a organização e ela acusou o golpe ao promover esta alteração. Agora, os indicados à premiação meramente representam os mais votados pelos 12 mil associados da Academia durante o processo.

Entretanto, mesmo sendo essencial ouvir os reais anseios dos votantes e de toda a indústria musical, alguns problemas acabaram vindo nesse pacote (e é natural). Como diria um certo presidenciável brasileiro, “a democracia é uma delícia, mas tem seus custos”.

Em um período pouco inspirado para o universo musical estadunidense, o Grammy 2022 peca pelo excesso de nomes que estão ali por mero corporativismo (ou em outras palavras, influência), que é justamente o que a diferencia das outras premiações sem processos democráticos. Por exemplo, o exorbitante número de nomeações para Lady Gaga (em parceria com Tony Bennett), H.E.R e Brandi Carlile não são compreensíveis do ponto de vista crítico e muito menos em popularidade. São artistas que foram acionadas nesta edição por falta de criatividade – ou, quem sabe, necessidade de reafirmar os mesmos “bruxos” de sempre.

O líder de indicações desta edição, entretanto, foi uma surpresa para todos: Jon Batiste. O músico fez parte da composição musical do filme Soul (Disney, 2020) e comanda a banda do talk show The Late Show with Stephen Colbert. Acreditamos que poucos pensaram (muito menos ele) que receberia onze indicações mesmo se tratando de um artista vencedor de Oscar e Globo de Ouro. O Grammy frequentemente tem seus “surtos coletivos” (como a própria H.E.R), mas ao contrário da citada, ele até se explica pelo buzz (mesmo que pequeno) dos clipes coloridos e vibrantes que usou para divulgar o álbum “We Are”, como “I Need You”.

Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas e texto
Foto: Divulgação/Redes Sociais

Agora vamos ao erro que talvez seja o mais inacreditável de todos: os indicados a Best Music Video (Melhor Videoclipe). Apesar de contar com nomes incontestáveis como Olivia Rodrigo, Lil Nas X, Billie Eilish e até o próprio Jon Batiste, os votantes escolheram dois vídeos feitos no estilo “ao vivo” que têm absolutamente nada de especial (“Shot in the Dark” do AC/DC e “I Get a Kick Out of You” de Lady Gaga e Tony Bennett). Além de ser uma gritante falta de bom senso, é um desperdício tremendo para um formato musical que sempre conta com grandes produções (você mesmo pode citar uns dois ou três clipes mais legais que esses). Até a lista do VMA desse ano foi melhor.

E sim: o clipe ordinário de “Peaches” do Justin Bieber também foi nomeado na categoria, coroando mais um ano repleto de indicações para o cantor – agora com “Justice”, outro álbum medíocre. Ao contrário dos outros anos, parece que neste existe o potencial para que Justin consiga ganhar mais do que um gramofone na noite do dia 31 de janeiro.

As reviradas de olhos em pop, rap, pop e rock

Dois grandes artistas que têm um relacionamento complicado com a Academia conseguiram um número expressivo de indicações de qualquer forma: Kanye West e Drake. O álbum “Donda” é um projeto que, apesar de ser errático e longo, tem músicas que são difíceis de serem ignoradas. Quem poderia ser completamente esquecido é “Certified Lover Boy”, que é mais um álbum preguiçoso e caça-níquel de Drake. Mesmo assim, foi contemplado com indicações em “Rap Performance” e “Rap Album”.

O fato de “Donda” estar competindo a Álbum do Ano (e “Certified Lover Boy” não) talvez seja um indicativo de que o bom senso impedirá uma vitória do rapper canadense nestas categorias. Ainda mais competindo com o próprio Kanye, Nas, Kendrick Lamar, Cardi B, Megan Thee Stallion e Tyler, The Creator.

No rock, imperou o tradicionalismo dos tiozões. Sem ver o nome das músicas e álbuns indicados, você poderia pensar que se trata do Grammy de algum ano da década passada ou retrasada. Não veja a opinião como desrespeito, já que é perfeitamente possível que uma banda veterana faça músicas boas, mas ver Foo Fighters, Paul McCartney, AC/DC, Weezer e Chris Cornell (de forma póstuma) dominando as indicações mostra um certo padrão de voto, não acha? Será que, realmente, estes foram os maiores nomes do gênero durante o ano?

Nas categorias de música pop, poucas surpresas, mas questionamentos parecidos. Dentre os indicados, apenas Billie Eilish e Olivia Rodrigo tem álbuns sólidos e indicações inquestionáveis. Em uma temporada que teve o excelente “Disco” de Kylie Minogue, músicas excelentes no relançamento do “What’s Your Pleasure” de Jessie Ware e, até mesmo, um bom dueto entre Miley Cyrus e Dua Lipa em “Prisoner”, é justo chancelar a mediocridade de Justin Bieber, Ariana Grande e Coldplay?

Sobre os acertos e quem sentimos falta

Nem só de erros vive a Academia. A categoria de Melhor Álbum Alternativo tem recebido nomes interessantes nos últimos anos e isso aconteceu novamente. Os cinco nomes indicados (Arlo Parks, Halsey, St. Vincent, Fleet Foxes e Japanese Breakfast) lançaram álbuns que foram bem recebidos criticamente e são muito comentados em sites de público mais “indie”, como a Rate Your Music. Aliás, “Daddy’s Home” de St. Vincent poderia ter recebido mais amor pelos votantes com uma indicação a Álbum do Ano, mas tudo bem…

Nas categorias de R&B, celebraremos as esperadas e merecidas indicações para o projeto Silk Sonic e as não tão óbvias para Jazmine Sullivan.

Para as categorias latinas, rolou um espelho dos artistas que já pintaram no Grammy Latino (incluindo uma forçada de barra com a Selena Gomez): Rauw Alejandro, Camilo, Bad Bunny, Mon Laferte, J Balvin e, principalmente, C. Tangana, Nathy Peluso e Natalia Lafourcade. Pontos para a premiação ao colocar nomes compatíveis com o que rolou de importante na temporada.

Em um dos “gêneros” que mais nos interessam como site (hello mundo!), as categorias globais também não decepcionaram e entregaram artistas de peso: Burna Boy, Angélique Kidjo, Femi Kuti, Wizkid e até uma improvável lembrança para a cantora Arooj Aftab. Ela tem origem paquistanesa e canta em urdu e inglês em seu álbum “Vulture Prince”, que também acabou a colocando na briga pelo gramofone de Best New Artist (Artista Revelação). Lamentamos, entretanto, a falta de indicações para a nigeriana Niniola pelo incrível álbum “Colours & Sounds” e também para o nigerino (não é erro de digitação) Mdou Moctar e o solo de guitarra mais poderoso de 2021 na psicodélica “Afrique Victime”.


Cobertura do Grammy 2022 no Kolibli: vem aí!
Apostas por categorias e as nossas torcidas: será publicada na segunda metade de janeiro.
Cobertura ao vivo com comentários: dia 31 de janeiro, no nosso twitter (@sitekolibli).


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Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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2 thoughts on “Hit ou flop? Opinamos sobre a lista de indicados ao Grammy 2022

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