Premiação consagrou Billie Eilish e seu irmão Finneas com cinco gramofones dourados
Billie Eilish varreu tudo (e mereceu)
Vencedora em cinco categorias, Billie Eilish fez história na noite de ontem ao receber prêmios em todas as categorias do Big Four no mesmo ano (álbum, gravação, canção e artista novo). Mesmo que o Kolibli não tenha sentido esse álbum como a Academia o fez, “When we all fall asleep, where do we go?” teve um sucesso completamente previsível na premiação, já que conseguiu unir crítica e público em 2019. Billie, que nem era maior de idade na época da gravação do álbum, lançou um dos discos mais originais de música pop feito nos últimos anos, sabendo utilizar melancolia e extravagância com criatividade para se conectar com os problemas e anseios da geração atual de jovens. Além de tudo isso, é impressionante ouvir “When we all fall asleep” sabendo que ele é o resultado de um trabalho feito em dupla com seu irmão, Finneas, em um estúdio improvisado em sua casa, subvertendo a lógica dos grandes estúdios e produtores badalados.
O pop mudou
O bem sucedido estilo-dificíl-de-se colocar-em-caixinhas feito por Billie Eilish e a vitória de dois pop raps em categorias de música pop (“Truth Hurts” e “Old Town Road”) deram um recado bem claro: o gênero mudou — e os consumidores, também. Quem ainda esperava um retorno ao modelo dos anos 00 e 10 de divas pop pode desistir agora, já que quase nenhuma delas compareceu à premiação.
Vitórias plausíveis em sua maior parte
Em quase todas as categorias do Grammy 2020 tivemos poucas surpresas ou decepções. Billie levou tudo que conseguiu, Lizzo rapou as categorias de r&b e urban e Rosalía ganhou pelo Kolibli Álbum do Ano de 2018, “El Mal Querer”. Nas categorias eletrônicas, a influência do hit “Piece of Your Heart” não evitou que o lendário duo The Chemical Brothers levasse gramofones por Gravação Dance e Álbum Dance/Eletrônico. Anderson Paak já pode se considerar um queridinho da Academia, pois recebeu prêmios pelo segundo ano consecutivo driblando o pouco burburinho ao redor de seu nome (dessa vez por Álbum R&B e Performance R&B — esse último em cima de Lizzo e Daniel Ceaser). Tyler, The Creator deve ter sido beneficiado pela comoção em torno do seu esquecimento pelos votantes nas categorias principais e levou com méritos o gramofone de Melhor Álbum de Rap com o incrível “Igor”. Por fim, Beyoncé teve o trabalho feito no excelente documentário “Homecoming” reconhecido ao vencer “Melhor Filme Musical”.
As partes mais chatinhas ficaram por conta das categorias de rock, que foi até coerente em suas escolhas, já que os indicados não foram muito badalados em 2019 (ainda sentimos muito pela derrota de “Harmony Hall”, mas Vampire Weekend ao menos levou algo), e na lista de Melhor Videoclipe, vencida pelo viral “Old Town Road” de Lil Nas X e Billy Rae Cyrus. Nós entendemos a influência dele (e até a qualidade), mas “Cellophane” e “We’ve got to Try” são muito superiores.
Esnobados? (Ariana Grande, Lana Del Rey, Taylor Swift…)
Vivendo o auge de sua carreira, Ariana Grande acabou sendo escanteada com o álbum “thank u, next” e saiu de mãos vazias do Grammy. Boicotes por diversos motivos (principalmente por preconceito) não são novidade na premiação, mas a cantora realmente parece ter tido azar ao cair em um ano polarizado por dois projetos um pouco mais fortes (Lizzo/Billie). Não seria um absurdo se ela vencesse com alguma de suas indicações, mas infelizmente o Grammy só pode entregar o prêmio para uma submissão por categoria. Rihanna passou por algo parecido em 2017.
Sobre a polêmica em “Melhor Álbum Pop Vocal”
Nas redes sociais (e em especial, o Twitter), diversos espectadores se revoltaram ao ver Billie Eilish vencer Beyoncé e Ariana Grande em uma categoria que avalia vocais. De uma vez por todas: não, a categoria não premia vocais. Claro que esse elemento musical é levado em consideração na avaliação dos votantes, mas o nome “vocal” busca limitar as indicações dessa categoria a álbuns que tenham ao menos 51% de músicas pop com vocais. E mesmo que avaliasse só esse aspecto, a cantora “sussurrante” poderia vencer sem problemas, já que a performance vocal de Billie Eilish no álbum “When we all fall asleep, where do we go?” é arrojada e muito bem feita.
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