Porto Alegre, algum ano entre 2006 e 2009.
Um conhecido, cujo rosto se perdeu nas memórias de quem escreve este texto, disse algo que volta e meia retorna aos meus pensamentos:
“Eu não acredito que tu sabe a capital da Austrália! Todo mundo que eu pergunto fala que é Sydney…”
Não tenho a menor ideia do contexto ou do porquê alguém me pararia na rua para perguntar uma coisa dessas, mas o que importa é que eu sabia. Eu era uma criança chata.
Digo, chata mesmo. Eu decorava capitais, superficialmente sabia informações sobre blocos econômicos e até mesmo países remotos como, sei lá, Nauru. Trinidad e Tobago então? Relia mil vezes a edição da Revista Terra que falava sobre as ilhas. Gostava de futebol, de Playstation 1, mas no final era sempre mais curioso pensar nas seleções diferentes que apareciam no meu álbum da Copa do Mundo de 2006.
Com a chegada da adolescência, meus interesses naturalmente mudaram bastante. Posso dizer que a criança chatinha que sabia de cor a capital de Bangladesh (ou como era a bandeira de Madagascar) teria se transformado no crítico musical mais aguado que vocês não verão (já que meus textos de 15 anos estão guardados a cinco chaves). Época boa. Aquele “Born This Way” de 2011 gerou transformações irreversíveis na forma como eu consumia música e desde então sou me considero completamente apaixonado por essa arte. E o “4”, então? Todo semestre retorno a ele, como se fosse uma espécie de sessão espiritual (como alguns diriam, alinhamento dos chakras).
Ao ficar mais velho, percebo que ser adulto é tentar incessantemente amadurecer, suscitar pragmatismos, enfrentar medos e aprender a abraçar particularidades. E se eu sou o produto de uma longa construção, atesto aqui a minha nova faceta: o adulto chatinho (e dessa vez, com orgulho). Essa faceta continua curtindo música como sempre, mas agora coloca em jogo a questão geográfica. Quer entender que relações podemos estabelecer entre Anittas e Shakiras. Ligações entre o rock gaúcho e o pop tailandês? O céu é o limite. Assim surge o Kolibli.
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