Nos debates que acompanhei pelos últimos anos, apreciadores fervorosos de música pop sempre levaram debaixo do braço suas incontáveis pastinhas com argumentos favoráveis e desfavoráveis a certos artistas. Se no futebol achincalhamos o adversário colocando em pauta todos os títulos e glórias do nosso clube, o fã Metacritic se esforça em mostrar que a sua artista favorita tem mais notas positivas do que o cantor que a outra pessoa gosta, podendo até contar com análises de desempenho (como por exemplo, a mercadológica).
Se pelo lado dos que consomem crítica musical, muitas vezes a busca se baseia em mera zoação; imagine a importância dada por quem é completamente alheio a este formato. Os motivos para o desprezo são vários, mas costumam convergir na ideia de que ninguém deve ditar o que é boa música ou não — e até mesmo, questionando se esse formato ainda é necessário. Antigamente a função do profissional que analisava todo tipo de produção musical era atrelada a uma lógica de consumo muito diferente da que temos hoje: as vitrolas perderam o seu lugar para o Youtube, as lojas de discos cabem no seu celular. Por que diabos preciso ler o texto de alguém falando sobre um lançamento se eu posso apenas ir até o Spotify descobrir por conta própria? Mesmo sendo estudante de jornalismo e redator de resenhas há um bom tempo, é meu trabalho trazer o fato: sim, a crítica musical não é tão importante. E tá tudo bem. Mas calma — o formato continua vivíssimo e aqui coloco algumas dicas e opiniões sobre ele para que você reflita um pouco sobre a crítica musical:
A crítica não é mais essa Coca toda, mas ainda tem seu papel
Já apresentou uma música muito legal para alguém e a pessoa simplesmente não sentiu a vibe? Ninguém gosta de ouvir que o que curte é ruim, não é mesmo? O papel da crítica não é tecer negatividades por puro clique, mas também está longe de ser um espaço para babar em cima de todo artista. A resenha é um formato que busca analisar produções artísticas, apontando ligações que possam ser construtivas e, mesmo que este necessariamente não seja o espaço, suscitar reflexões sobre o modo como as coisas funcionam no mundo da música.
Imparcialidade é inalcançável, mas honestidade sim:
Se notícias corriqueiras como “Acidente na avenida fulano de tal” têm sua carga de imparcialidade questionada nas escolas de jornalismo, imagine um texto do gênero opinativo. Conscientemente ou não, escolher pautas e produzir textos envolve uma série de escolhas que levam em conta a relevância do assunto para o momento, a posição do portal, e principalmente, o gosto musical. Mesmo que a nossa busca pela isonomia em relação aos analisados deva ser incessante, acredito que seja de suma importância que o leitor saiba que é difícil ver um site especializado em metal fingir que curte a sonoridade do novo álbum da Taylor Swift (e tampouco pode analisar o que ela produziu baseado em opiniões sobre a cantora como pessoa — salvas exceções que posso analisar em outra oportunidade). Lembre-se: opinião sobre a obra ≠ opinião sobre o artista.
Como surgem os críticos?
Em 1955, comunicadores ingleses efetuaram um ritual com velas, muito fogo e uma cópia do “In The Wee Small Hours” até surgir uma legião de gente chata que ama impor seus padrões para os outros. Não né, pessoal? Quem faz esse trabalho, não importando a profissão principal, é uma pessoa que respira música e faz questão de falar sobre isso. Portanto, é o papel do crítico buscar ouvir muita coisa nova, estar antenado sobre como funcionam os mercados fonográficos e sempre buscar exercer empatia com o artista e o objeto de análise.
No fim das contas, o que vale é você!
Críticos analisam, teorizam e divulgam para o mundo concepções que julgam serem certas para o bem da música como arte. A bem da verdade: importa muito se o Anthony Fantano deu 6/10 para o seu álbum favorito? Você pode até ficar chateado, mas no fim das contas, não há nada de errado em ouvir algo que não é aclamado por esse suposto grupo de “ungidos musicais”. O bom crítico jamais ficará dizendo tudo o que você quer ouvir. Sinta-se livre para critica-lo, já que fazemos isso a rodo, mas aproveite para exercitar a sua réplica. Defenda o seu gosto musical: ele vale ouro e ponto final!
Tarde para dizer isso, mas vamos combinar…
A palavra “crítica”, por si só, já é pesada. Ela carrega uma ideia de que essa produção necessariamente é feita para apontar erros, dizer que o que foi feito por tal banda é ruim, etc. Tenho absoluto pavor a este termo e corro o mais rápido possível quando alguém me chama de crítico musical (não muitas vezes, tô começando ainda — risos). Me vê um “jornalista musical” com Cappuccino, por favor! Até “resenhista” é melhor.
One thought on “A crítica musical realmente importa?”