O 2019 in Review chega na seção dos melhores do ano logo com a mais complicada, exaustiva e divertida seleção a ser feita. Na lista de músicas, podemos indicar mais artistas, gêneros musicais, e assim, divulgar mais histórias interessantes ao redor do mundo do que nas outras. De acordo com os nossos cálculos, as 100 músicas selecionadas têm origem em 31 países e 18 idiomas de todos os continentes, por todo o mundo. O critério de seleção levou em consideração o impacto das canções, avaliações pessoais e buscou evitar repetições de artistas (principais), já que o foco é tentar passar o maior número de visões diferentes. Aqui estão as nossas menções honrosas e as 100 melhores músicas de 2019 com comentários no top 10:
Clique aqui para seguir a playlist no Spotify
PS: Nomes em alfabetos não-latinos serão transliterados para o utilizado na língua portuguesa e colocados em parênteses
Menções honrosas
“Invocada”, Ludmilla & Leo Santana (Brasil)
“Klefi”, Hatari & Bashas Murad (Islândia, Palestina)
“Grustniy Dans”, Artik & Asti com Artem Kacher (Rússia)
“MY POWER”; Beyoncé, Nija, Busiswa, Yemi Alade, Tierra Whack, Moonchild Sanelly, DJ Lag (Estados Unidos, África do Sul, Nigéria)
“Me Separei”, MC Naninha & MC Magrinho do PU (Brasil)
“SNAPPING”, Chung Ha
“Rules”, Doja Cat (Estados Unidos)
“Arcade”, Duncan Laurence (Holanda)
“Chama Ela”, Lexa & Pedro Sampaio (Brasil)
Top 100
100. “Ogunté” — Adriana Calcanhotto (Brasil)
99. “Piece of your Heart”, Meduza & Goodboys (Itália)
98. “ Смотри” (Smotri), Polina Gagarina (Rússia)
97. “Look at Her Now”, Selena Gomez (Estados Unidos)
96. “Juego”, Anitta (Brasil)
95. “Melody of Love, Hot Chip (Reino Unido)
94. “HIGHEST IN THE ROOM”, Travis Scott (Estados Unidos)
93. “Noite Inteira” — Pitty, Lazzo Matumbi (Brasil)
92. “Natikillah”, Nathy Peluso (Argentina)
91. “We’ve got to try”, The Chemical Brothers (Reino Unido)
90. “Barefoot in the park”, James Blake & Rosalía (Reino Unido, Catalunha/Espanha)
89. “Designer”, Niniola & Sarz (Nigéria)
88. “Evoluiu”, MC Kevin o Chris & Sodré (Brasil)
87. “Young Boy”, Calypso Rose & Machel Montano (Trinidad & Tobago)
86. “Luna Plina”, Liviu Teodorescu (Romênia)
85. “Hollow” — Barns Courtney (Reino Unido)
84. “How do you sleep?, Sam Smith (Reino Unido)
83. “Quando a vontade bater”, PK & PK Delas (Brasil)
82. “KAOS”, Raiven (Eslovênia)
81. “№1”, Artem Pivovarov (Ucrânia)
80. “Coração”, Diogo Piçarra (Portugal)
79. “You don’t Know Me”, Faouzia (Marrocos)
78. “Diaba”, Urias (Brasil)
77. “On a Sunday”, Ester Peony (Romênia)
76. “Im Anush Hayastan” , Iveta Mukuchayan (Armênia)
75. “Les Planètes”, M. Pokora (França)
74. “Way to the show”, Solange (Estados Unidos)
73. “Clima Quente”, MC Tha (Brasil)
72. “Selfish”, Little Simz & Cleo Sol (Reino Unido)
71. “Violence”, Grimes & i_o (Canadá)
70. “Un Veneno”, C. Tangana & Niño de Elche (Espanha)
69. “Vai Menina”, Pedro Sampaio (Brasil)
68. “Área 51”, Black Alien (Brasil)
67. “Дельфины” (Delphini), Luna (Ucrânia)
66. “Now that i found you”, Carly Rae Jepsen (Canadá)
65. “Left me yet”, Carly Rae Jepsen (Canadá)
64. “Jaloux”, Bilal Hassani (França)
63. “Narcissus”, Róisin Murphy (Irlanda)
62. “Doin’ Time”, Lana Del Rey (Estados Unidos)
61. “Verdinha”, Ludmilla & Topo La Maskara (Brasil)
60. “Icy”, Kim Petras (Alemanha)
59. “מה את בשבילי” (Ma At Bishvili), Gil Vain & Eldad Cohen (Israel)
58. “Emta Njawzak Yamma”, DAM (Palestina)
57. “Never Really Over”, Katy Perry (Estados Unidos)
56. “Oh Long Johnson”, Miss Caffeina (Espanha)
55. “YO TE LLEGO”, J Balvin & Bad Bunny (Colômbia)
54. “Танцуй пока молодой” (Tansuy Poka Molodoy), Lesha Svik (Rússia)
53. “Everyday”, Weyes Blood (Estados Unidos)
52. “Бабки” (Babki), Antoha MC (Rússia)
51. “Comfort Crowd”, Conan Gray (Estados Unidos)
50. “駆け落ち者” (Kakeochi-sha), Sheena Ringo & Atsushi Sakurai (Japão)
49. “Open Fire”, Patoranking & Busiswa (Nigéria, África do Sul)
48. “I Trance”, Agnes (Suécia)
47. “Anybody”, Burna Boy (Nigéria)
46. “Siren Song”, Maruv (Ucrânia)
45. “Μ’ Ένα Σου Βλέμμα” (M’ Ena Sou Vlema), Giorgos Sabanis (Grécia)
44. “EARFQUAKE”, Tyler the Creator (Estados Unidos)
43. “Top Off — Homecoming Live”, Beyoncé (Estados Unidos)
42. “Lalala”, BBNO & Y2K (Canadá, Estados Unidos)
41. “Guapa”, Juan Wauters (Uruguai)
40. “Nuk po kalojka”, Yll Limani (Kosovo)
39. “Millionària”, Rosalía (Espanha/Catalunha)
38. “Hell after this”, Dido (Canadá)
37. “Juice”, Lizzo (Estados Unidos)
36. “break up with your girlfriend, i’m bored” (Ariana Grande)
35. “Noite Vazia”, Thiago Pethit (Brasil)
34. “Oui ou non”, Angèle (França)
33. “Мужа дома нету” (Muzha Doma Netu), Zventa Sventana & Ivan Dorn (Rússia, Ucrânia)
32. “Amor de que”, Pabllo Vittar (Brasil)
31. “Beverly Hills”, Zivert (Rússia)
30. “La Cobra”, j mena (Argentina)
29. “Так как ты” (Tak kak ty), Anastasia Kozhevnikova (Ucrânia)
28. “ПОМАDA” (Pomada), Misha Romanova (Ucrânia)
27. “Bola Rebola”; Tropkillaz, J Balvin, Anitta & MC Zaac (Brasil, Colômbia)
26. “Telemóveis”, Conan Osíris (Portugal)
25. “Dark Ballet”, Madonna (Estados Unidos)
24. “Blood of the Fang”, clipping. (Estados Unidos)
23. “New Normal”, Caroline Polachek (Estados Unidos)
22. “Harmony Hall”, Vampire Weekend (Estados Unidos)
21. “Doble Corazón”, Monica Naranjo (Espanha)
20. “Soldi”, Mahmood (Itália)
19. “Don’t Start Now”, Dua Lipa (Reino Unido)
18. “Gone”, Charli XCX & Christine and the Queens (Reino Unido, França)
17. “Gotta Go”, CHUNG HA (Coreia do Sul)
16. “I BEEN BORN AGAIN”, Brockhampton (Estados Unidos)
15. “Пуля-Дура”, LOBODA (Ucrânia)
14. “Lark”, Angel Olsen (Estados Unidos)
13. “Exits”, Foals (Reino Unido)
12. “公然の秘密” (Kozen no himitsu), Sheena Ringo (Japão)
11. “sad day”, FKA Twigs (Estados Unidos)
10. “Boda Sodiq”, Niniola (Nigéria)
Niniola se divulga por todo os cantos como a “rainha do afro-house” —e canções como “Boda Sodiq” mostram que isso está longe de ser uma mentira. Ao cantar em uma roupagem totalmente leve e popular, Niniola coloca em debate o consentimento nas relações sexuais, assunto mais que necessário em um país onde o estupro é tratado como epidemia.
9. “Ashes to Ashes”, Anna Bergendahl (Suécia)
A cantora sueca Anna Bergendahl levou (e ainda leva) por toda a sua carreira uma marca negativa: é a única competidora a não conseguir classificar a Suécia para a final do festival Eurovision desde a introdução das semifinais. Nove anos após a eliminação, Anna Bergendahl volta ao palco do Melodifestivalen (seletiva que decide o representante nacional no Eurovision) não só para pedir uma nova chance ao povo sueco, mas também para afirmar que é uma artista que merece ser ouvida. “Ashes to Ashes”, faixa que transita entre o electropop e o country, faz uma ponte quase perfeita entre a sonoridade de Anna e o que se espera do Melodifestivalen atual, que fora reformulado para ser o mais acessível e popular possível. Mesmo que a cantora não tenha vencido a seletiva, “Ashes to Ashes” fica como exemplo de como uma música pop pode ser escrita, do início ao fim, de forma criativa.
8. “Hatrið mun sigra” — Hatari (Islândia)
Embora o Eurovision 2019 tenha sido um dos mais fracos dos últimos anos, ele reuniu artistas alguns artistas bastante diferenciados que conseguiram trazer algo novo ou original para o programa. Sem precisar pensar muito, o grupo islandês Hatari talvez seja um dos maiores atos que o palco do festival já recebeu. Nórdicos vestidos em roupas de sadomasoquismo cantando música industrial sobre como a Europa irá desmoronar? Ok… Não sabia que precisava disso, mas agora não vivo sem.
7. “Ktheju tokës”, Jonida Maliqi (Albânia)
A canção de art pop que representou a Albânia no Eurovision não é das que caem instantaneamente no gosto de quem ouve, mas em algum momento os vocais místicos de Jonida Maliqi pegam. “Ktheju Tokës”, cantado por Jonida Maliqi, é um pedido para que a diáspora albanesa retorne ao país, que historicamente viu sua população emigrar por diversos motivos.
6. “Sebi”, zalagasper (Eslovênia)
Vamos de Eurovision mais uma vez? “Sebi”, canção eslovena de pop ambiental feita pelo duo zalagasper, cria uma atmosfera própria virtualmente única nestes mais de 60 anos do festival europeu, retratando o amor como se ele fosse algum tipo de recorte no espaço-tempo de 3 minutos.
5. “Живи спокойно, страна!” (Zhivi spokoyno, strana!), LOBODA (Ucrânia)
A regravação do sucesso de Alla Pugacheva, uma das maiores artistas russas de todos os tempos, não intimidou a cantora Loboda, já que a ucraniana conseguiu ressignificar o clássico de forma ainda mais interessante. A escolha por trás do remake de “Zhivi Spokoyno, Strana!” (2003) foi a melhor possível, já que a letra conta as preocupações de uma mulher perseguida pela mídia e pelo público — e de fato, a cantora ostenta enorme popularidade no Leste Europeu por conta dos hits super produzidos, clipes provocativos e vida pessoal com algumas polêmicas, como a decisão de continuar cantando na Rússia após a guerra na Crimeia (assunto para um texto à parte). “Zhivi Spokoyno, Strana!”, ou em português “Fique calmo, país!”, foi repaginada em uma produção vocal trance que mantém a teatralidade da versão original, já que Loboda tem essa característica como uma de suas maiores qualidades, transformando o cover em um dos momentos mais memoráveis do Ruspop em 2019.
4. “Так закалялась сталь” (Tak Zakalyalas Stal), Shortparis (Rússia)
Quando ouço “Так закалялась сталь”, imediatamente lembro de Joy Division (realmente o inicio da música é bem parecido com o de “Transmission”). Isso passa longe de ser algo que jogue contra o grupo russo Shortparis, que parece utilizar esses recursos ao seu favor. Assim como no videoclipe censurado que acompanha a faixa, a intenção do grupo é cutucar quem consome suas produções, formando algo completamente único (muito também por culpa do vocal ímpar de Nikolai Komiagin) a partir de imagens que nenhuma banda internacional pode ter: as da Rússia moderna, em constante mudança, com seus problemas e virtudes.
3. “bad guy”, Billie Eilish (Estados Unidos)
Quando muitos procuravam quem seria a “nova Lady Gaga”, Billie Eilish, de apenas 18 anos, chegou pedindo passagem no mainstream mundial. “Bad guy” é apenas o símbolo dessa revolução de uma menina só, que gira em torno de um pop difícil de se colocar nas caixinhas de gêneros musicais, com vocais sussurrados e produção minimalista, contando também com um riff de sintetizador que parece ter sido tirado de alguma fase gótica do jogo Crash Bandicoot.
2. “Con Altura”; Rosalía, J Balvin & El Guincho (Espanha, Catalunha, Colômbia)
Quem prestou atenção nos caminhos traçados na era “El Mal Querer”, sabe que expandir o flamenco pop de Rosalía para uma audiência ainda maior era apenas questão de tempo. “Con Altura”, single que marca essa ruptura, encanta por ser corajosa, já que fez com que muitos dos fãs de músicas como “Catalina” torcessem o nariz, mas também triunfa por ser essencialmente a cara dela, que não se deixou levar pela (segunda) oportunidade de cantar com J Balvin, dessa vez em um reggaeton clássico, ao convocar seu produtor e melhor amigo El Guincho, completamente alheia ao ritmo, para colaborar na música. Tudo funciona.
1. “Неземная” (Nezemnaya), Max Barskih (Ucrânia)
Mesmo nos primórdios de sua carreira, quando fazia o pior do pop farofento que tocava exaustivamente nas rádios em 2012, Max Barskih já demonstrava ser um cantor pop diferenciado. Hoje em dia, mesmo após o maior sucesso de sua carreira (“Tumany”), o ucraniano parece cada vez menos preocupado em agradar e seguir fórmulas que sejam alinhadas com tudo que faz sucesso no Leste Europeu.
A bem da verdade, não há nada de novo ou genial no pop oitentista, com seus pés em David Bowie e até mesmo no vizinho Vitas, que Max Barskih traz para o mainstream, mas “Nezemnaya”, terceiro single do álbum “7”, acerta ao reproduzir tudo que se espera de uma boa música pop — um bom refrão, uma excelente produção, ainda que Max não soe extraordinariamente notável do ponto de vista vocal, com um poderoso key change que serve como a cereja do bolo nessa canção sobre um “amor sobrenatural”.
Seja no Thilleristico primeiro álbum, onde o cantor criou sua própria “Express Yourself”, ou na introspectividade que resultou no álbum “Po Freydu”, Max Barskih, agora com “Nezemnaya”, dá uma lição aos colegas do pop masculino ao tentar fazer mais do que coçar o saco na frente das câmeras e esperar que o sucesso caia do céu com qualquer música pálida e genérica.
3 thoughts on “As 100 melhores músicas de 2019”