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Dando prosseguimento ao #2022InReview, que é a retrospectiva do Kolibli com os principais momentos do ano que passou, vamos agora relembrar as piores músicas dele. Para ser preciso, 20 delas com algumas menções desonrosas para as que não fizeram parte do corte final.

Em um momento complicado para o Brasil em todos os sentidos, o país também foi amaldiçoado musicalmente ao ter um dos anos mais idiotas da memória recente. Com isso, somos os campeões de menções nesta lista pela primeira vez (empatados com os Estados Unidos). A rede social TikTok e o Eurovision estão longe de serem vilões da arte, mas serão lembrados algumas vezes no texto.

Vale reiterar que o propósito deste tipo de postagem não é fazer bullying com o seu amigo que fez uma demo no quarto de casa e lançou no Soundcloud ou o seu vizinho que tem uma banda, mas sim criticar artistas que podem aguentar o tranco.

Confira as 20 piores músicas de 2022 com algumas menções desonrosas:

Menções desonrosas

“Stayin’ Alive”. DJ Khaled, Drake e Lil Baby / Países: Estados Unidos, Canadá
“Fade to Black”, Nadir Rustamli / País: Azerbaijão
“Apenas um Neném”, Gloria Groove e Marina Sena/ País: Brasil
“Not The Same”, Sheldon Riley / País: Austrália
“Lift Me Up”, Rihanna / País: Barbados
Todo o EP da Lexa / País: Brasil
Todo o EP da Anitta, exceto “Ai Papai” / País: Brasil

20. “Question…?”, Taylor Swift
País: Estados Unidos

“Midnights” não é um dos piores álbuns de 2022 (e talvez nem seja um dos melhores), mas acho que podemos concordar que a Taylor já fez muito mais. “Question…?” tem uma das letras mais infantis e toscas da carreira da cantora, que é conhecida justamente por ser uma das grandes compositoras da atualidade. Se liga nesse refrão:

Can I ask you a question? (Posso fazer uma pergunta?)
Did you ever have someone kiss you in a crowded room (Você já foi beijado em um espaço cheio)
And every single one of your friends was (E cada um dos seus amigos estava)
Making fun of you (Rindo de você)
But 15 seconds latеr they were clapping too? (Mas 15 segundos depois, eles estavam aplaudindo também?)
Thеn what did you do? (E aí o que você fez?)

Na cabeça da Taylor eu tenho certeza que o momento retratado foi mais interessante, mas o relato é de deixar a gente constrangido.

19.”Don’t Fuck With Ukraine”, Max Barskih
País: Ucrânia

Além de tudo que uma guerra pode proporcionar de horrível para uma sociedade, a música do Leste Europeu praticamente parou com a divisão entre ucranianos e russos. Por conta disso, outro efeito natural observado foi o aumento de músicas que tratam do assunto, mas que praticamente tiveram nada que vá além de clichês melodramáticos compreensíveis em um momento extremo como esse. Max Barskih, um dos cantores mais famosos da região e vencedor de Música do Ano no site em 2019, teve uma ideia diferente: e se fizéssemos um bate estaca eletrônico para apoiar o exército ucraniano? O resultado é “Don’t Fuck With Ukraine”, que tem uma produção divertida, mas a letra trata o conflito com um empoderamento que fica entre o brega e a falta de noção;

18. “Roça em mim”, Zé Felipe, Ana Castela e Luan Pereira
País: Brasil

A esse ponto já é quase indiscutível que Zé Felipe, o nepobaby mais querido do Brasil, é um cantor medíocre e limitado como artista, mas o que importa é que ele segue tentando. Após flertar com o fracasso em 2022, o cantor merece elogio pelo hit “Roça em mim” ter usado mais do que 10 palavras da língua portuguesa e de fato ser uma música. Entretanto, a performance vocal segue negligenciável e quando há um respiro com a parte de Ana Castela, somos surpreendidos com um refrão tão sexy quanto encoxar a sua tia no tanque sem querer.

17. “Circles”, Andrea
País: Macedônia do Norte

O caso da Macedônia do Norte no Eurovision deste ano prova que nem sempre escolher um representante por meio de seletiva aberta para artistas e público é a melhor ideia. O país balcânico tem um mercado fonográfico tão nanico quanto a sua extensão territorial, então esperar que surjam canções geniais no processo de triagem sem algum tipo de incentivo é loucura. Andrea, cantora vencedora do Evrovizija 2022 e então representante da Macedônia do Norte no Eurovision, trouxe uma balada que tem bons fundamentos do que se faz sucesso no festival, como a criação de clímax e simplicidade, mas soa crua, mal produzida e nada mais que um ponto de partida para uma artista jovem como ela.

16. “Imortais e Fatais 2”, Baco Exu do Blues e Vinicius de Morais
País: Brasil

Qualquer momento do álbum “QVVJFA?” poderia entrar aqui na lista, mas “Imortais é Fatais 2” resume bem o local ocupado pelo Baco atualmente no rap nacional. Como dito pelo próprio na música, ele é “fruto da falta de abraços do mundo”, mas eu diria algo diferente. Na verdade, ele é fruto das ânsias do usuário esquerdista médio do Twitter com todas suas breguices adjacentes.

15.”I Am What I Am”, Emma Muscat
País: Malta

Todo ano os fãs de Eurovision passam por dois temores: artista que vai fazer revamp (nova versão) da sua música antes do festival ou aquele que decide trocá-la no meio do caminho. Em Malta, Emma Muscat venceu a seletiva com a cafona, mas excelente “Out of Sight”, e decidiu abandoná-la após a recepção mista de sua vitória. Já a música escolhida para o Eurovision conseguiu tirar o que era bom e deixar só o cafona mesmo. “I Am What I Am” é daquelas músicas natimortas do festival: quando é anunciada você já sabe que não tem a menor chance de funcionar. Hino de motivação completamente genérico, sem sal e que já ouvimos mil vezes anteriormente.

14. “Everybody’s Gay”, Lizzo
País: Estados Unidos

O excesso de glicose foi uma característica muito presente no último álbum da Lizzo, mas “Everybody’s Gay” talvez seja o destaque embaraçoso do projeto. Ela tentou fazer a sua própria Last Friday Night versão LGBT, mas terminou com a energia deste vídeo da Narcisa Tamborindeguy falando o porquê dela amar os gays.

13.”Intention”, Intelligent Music Project
País: Bulgária

Nos últimos anos a Bulgária pareceu muito investida em vencer o Eurovision, mas tudo mudou com a estranha escolha do grupo Intelligent Music Project pata representar o país no festival. O nome da banda já dá uma dica de que sensatez não é o forte do grupo, mas a música escancara que “Intention” tem absolutamente nada de ‘intelligent”. É um hard rock fraquinho, batido e anêmico que conseguiu o grande feito de ser a primeira música do Eurovision lançada na temporada e desde então morar ininterruptamente no último lugar dos rankings dos eurofãs (no aplicativo My Eurovision Scoreboard). Ou seja, toda música nova que saia sempre era tida como melhor que essa. Triste demais.

12. “Bigger Than The Universe”, Anders Bagge
País: Suécia

Este é o momento para se agradecer os jurados internacionais do Melodifestivalen, tradicional seletiva da Suécia para o Eurovision. Eles evitaram a vitória de “Bigger Than The Universe”, pastelão clichê que volta e meia faz sucesso no país, mas que teria a grande chance se tornar a segunda eliminação dos nórdicos na história do festival. Amem, Cornelia.

11. “Rockstars”, Malik Harris
País: Alemanha

O amor e o investimento da Alemanha no Eurovision são diretamente proporcionais ao dedo podre que o país tem para escolher suas entradas. Por um lado, “Rockstars” tem um apelo americanizado que poderia resultar em sucesso no evento, mas a Europa não pensa assim e descartou esta dor de barriga. Respeito o sentimento do Malik, que deve ter uma história pessoal muito autêntica e bonita por trás da música, mas não dá para aguentar estes três minutos de miados para se colocar em vídeo de motivação no Tiktok.

10. “Acorda Pedrinho”, Jovem Dionísio
País: Brasil

Este é o ponto mais subjetivo e pessoal da lista, pois o hit do grupo Jovem Dionísio tem uma proposta interessante. Parte criativamente de uma história pessoal real vivida por eles, mas acabou se tornando refém do próprio sucesso. A veiculação desenfreada da canção em todo tipo de plataforma escancarou como a música tem um dos refrãos mais irritantes já tocados nas grandes rádios do país.

9. “Boys Do Cry”, Marius Bear
País: Suíça

A música da Suíça no Eurovision deste ano talvez seja um caso ainda mais escandaloso de que a democracia do voto popular tem seus problemas, mas a dos jurados também. “Boys Do Cry” teve um pouco de seu apelo ampliado pela performance gentil inspirada na Alemanha de 2018, mas ainda falta muito. Marius Bear tem um estilo vocal puxado pro jazz, mas aqui ele o usou para deixar enfadonha uma balada ausente de qualquer aspecto que faça o ouvinte se apegar a ela. 

Leia também: O que é Eurovision? – Um guia para iniciantes

8. “Twinkle Twinkle Little Bitch”, Leah Kate
País: Estados Unidos

Para quem não conhece a música, está é uma versão pop punk millennial para Tiktok da canção de ninar “Twinkle Twinkle”. Não é preciso dizer mais que isso.

7. “Will of The People”, Muse
País: Reino Unido

Faz parte do instinto natural de defesa do ser humano evitar situações ruins, então ignorei completamente o álbum novo do Muse pois sabia que coisa boa não vinha. Mas dei uma chance à faixa-título do projeto enquanto fazia a lista e saí mais decepcionado do que eu esperava. Uma banda que tem grandes sucessos com identidade própria virou uma mistura de grupo cover de Pink Floyd com Metallica que a gente vê em evento de prefeitura. A crítica social é tão ordinária, ultrapassada e insossa que eu me pergunto se isso foi algum tipo de promessa sendo paga. 

6. “Losers”, Aryia
País: Estados Unidos

O pop punk aos poucos tem voltado a dar as caras no mainstream mundial, mas ainda precisa mostrar mais consistência com, por exemplo, um artista novo que tenha um álbum de destaque. Infelizmente, o gênero também tem sido um grande para-raio de gente que acha que usar lápis de olho é um ato de imensa contracultura. Aryia parece ser um desses, que acabei descobrindo por acidente enquanto passeava pelo Tiktok. “Losers” tem uma das piores letras lançadas em 2022. Juro, não dá para levar a sério:

Life sucks, eso si que es
I’m in Spain without the s

5. “OLHADINHA”, Pedro Sampaio e Zé Felipe
País: Brasil

Já publicamos um texto extenso que destrincha cada erro de “Olhadinha”, mas ela é a representação da falência no padrão de qualidade dos hits brasileiros do último ano. Qualquer música atual de Pedro Sampaio ou Zé Felipe poderia figurar aqui, mas como já dito, é preciso escolher apenas uma. Pobre Brasil.

Leia também: Música nova de Pedro Sampaio e Zé Felipe comprova o baixo nível de exigência do pop nacional atual

4. “Don’t You Worry”, Black Eyed Peas, Shakira & David Guetta
País: Estados Unidos

Três das maiores fontes de múltiplos sucessos do Século 21 se reuniram em uma música, mas o resultado não poderia ser mais imbecil. “Don’t You Worry” é coisa digna de se escrever quando se começa um curso de inglês básico na CCAA. Não é possível que isso seja realmente o primeiro single de um álbum que vem de uma banda deste porte. Shakira: mande um e-mail para “contato@kolibli.com” se te obrigaram a fazer isso e você precisa de ajuda.

3. “Cachorrinhas”, Luísa Sonza
País: Brasil

Dentre as últimas músicas solo de Luísa Sonza, “Cachorrinhas” é a que tem o maior investimento criativo. Mas isso não é necessariamente um elogio, já que os seres humanos também são capazes de pensar em muita besteira.

“Cachorrinhas” é aquela típica ideia maluca que a gente tem durante um brainstorm. “Vamos chamar o Messi e o Joe Biden para juntos participarem de uma campanha para a nossa lanchonete”, por exemplo. Infelizmente, o conceito de “Cachorrinhas” foi levado a sério e resultou em uma dos hits mais irritantes da nova década. O refrão não soa empoderador (no sentido de dar vontade de cantar) ou viciante sem ser aborrecedor. A ideia de criar um espaço para que cada ouvinte se identifique e escolha qual das “cadelinhas” faz a sua cara é uma tática muito eficiente para se criar um sucesso, mas a proposta como um todo soa tola demais.

2. “Macetar”, Anitta
País: Brasil

Como em uma boa aplicação da primeira estrofe do clássico “Geração Coca-Cola”, Anitta foca na carreira internacional e “empurra os enlatados” e outros restos para o Brasil. Não que antes fosse diferente aqui ou acolá, mas era legal quando ela soava mais estratégica do que desesperada. Assim como em todo o EP “A procura da Anitta Perfeita”, a carioca faz um aceno ao país reproduzindo uma série de clichês que já são feitos por milhares de outras pessoas todo dia na mesma indústria. “Macetar” talvez seja a mais difícil de se ouvir no projeto todo –  e por isso, um resumo de tudo de ruim no EP já que só podemos citar uma música por artista principal nesta lista. É ausente de esforço em qualquer aspecto e de quebra bota em prova a capacidade de discernimento do brasileiro, que aparentemente se impressionaria facilmente com todo disparate genérico que tenha a palavra “macetar”. Não é assim que funciona.

1. “Fora da Casinha”, Arthur Aguiar e Matheus Fernandes
País: Brasil

Sem surpresas, este se torna o segundo ano consecutivo em que temos no topo da lista uma música relacionada ao BBB (Big Brother Brasil, Globo). O que era para ser um espaço diário de distração e entretenimento mais uma vez se transformou em um local hostil sequestrado por verdadeiras milícias digitais.

Em 2021, a edição do BBB foi muito popular, mas no final o programa ficou a mercê deste mesmo bando de desocupados que tornam as votações e eliminações algo artificial e fora do controle do telespectador casual. Já em 2022, um elenco muito fraco despertou o pior de todos desde o início (do público aos próprios confinados). Com ele, surgiu o mito Arthur Aguiar.

Conhecido por estrelar a versão brasileira da novela Rebeldes, Aguiar sempre foi um ator de segundo escalão (com todo o respeito) que ultimamente havia recebido maior destaque pelos escândalos protagonizados com a sua esposa, Maíra Cardi.

Sem grandes oportunidades nas novelas da Globo, o ator decidiu investir mais na carreira musical. Vocalmente ele nunca foi (e segue não sendo) um primor, mas demonstra potencial para evolução. Só que cantar bem é só uma peça no grande quebra-cabeça que é criar uma música decente.

Arthur então preparou um single (“Fora da Casinha”) para ser trabalhado durante e depois a sua participação no BBB. A música tem a participação de Matheus Fernandes, nome de peso que já foi lembrado aqui no ano passado por conta do hit  “Coração Cachorro”). Planejado ou não, o ator foi levado ao topo do programa e se tornou o primeiro “famoso” (os chamados “camarotes”) a vencer o programa. Isto se traduziu em sucesso para a música? Não.

A catástrofe sonora que é “Fora da Casinha” mostra bem o que representa uma participação em um reality como o BBB: um atalho. Uma tentativa de criar um caminho mais curto onde se subverta a própria história, a pobreza e, muitas vezes, o anonimato. No caso de Arthur, criar perspectivas novas para a sua carreira e limpar a imagem de “macho escroto” que as páginas de fofoca traziam.

No BBB deu certo, mas na música o buraco é mais embaixo. “Fora da Casinha” é uma caricatura excruciante do que se pensa que é o sertanejo e que não teria como dar certo. Panfletada aos quatro ventos pelos seus novos milicianos digitais, o que poderia ficar escondido para sempre nos arquivos dos fãs de BBB ganhou o palco do programa Encontro com Fátima Bernardes. Ali, a canção fez história e ganhou o Brasil se tornando piada instantânea por conta da falta de fôlego de Aguiar no ao vivo e pela letra genérica.

Sério: não há uma linha em “Fora da Casinha” que não faça parecer que a música foi composta em 15 minutos. Abra por sua conta em risco. “Já que eu tô block, vou meter o lock” é uma das tantas frases tacanhas que automaticamente se materializam como uma das piores na música mundial de 2022… até chegar a próxima. A produção? Grosseira e barata (o responsável deve ser o maior inimigo do Arthur). Os vocais do Matheus são aceitáveis, mas o ex-BBB coloca o nível tão abaixo do satisfatório que é fácil a gente se surpreender.

Assim como em qualquer outro lugar, a indústria musical brasileira não é (e nunca foi) lugar para santinhos. Pedófilos, assediadores, fascistas e todo tipo de criminosos estão por aí com a carreira inabalada. Uma série de casos de adultério não seria um empecilho para uma carreira musical, mesmo sendo praticados contra uma influenciadora muito famosa como Maíra Cardi. O que se precisa de verdade é trabalhar sério, parar de subestimar a inteligência do consumidor nacional e criar uma personalidade artística mais autêntica.


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Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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