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Essa carinha de bolachinha faz tudo para vocês. Foto: Vitoria Rodrigues/Arquivo Pessoal

Para dar início ao 2020 in Review (a retrospectiva musical do blog) e também levando em conta a falta de textos falando sobre a produção das tradicionais listas musicais, sendo elas de fim de ano ou não, o Kolibli veio aqui para abrir o jogo. Como as revistas e sites elaboram as tão controversas seleções musicais do que julgam ser o melhor e o pior de tal época? Venho abrir a caixa preta desse avião maluco chamado “crítica musical” para contar tudo a vocês!

Em primeiro lugar, é preciso dar nome aos bois — ou melhor, um boi só (muuu). Quem produz todos os conteúdos do Kolibli (até o momento da publicação) é nada mais, nada menos, que eu, Matheus Rodrigues, e dentre todo este material, as listas também. Outros sites e revistas com um número maior de colaboradores adotam maneiras diferentes, que vão desde a simples soma das listas de cada um dos participantes (como feito pela comunidade Sinewave, que já colaborei) até as reuniões editoriais e muitos outros processos que dependem de cada lugar.

Como um bom amigo de profissão diria, “não há nada que um jornalista mais goste de fazer do que listas”. Chega a ser até infame que o nome da profissão termine com essa palavra. E de fato, a temporada das listas é o momento mais legal do ano, mas também é o mais estressante. Para o Kolibli, por exemplo, a produção delas é feita durante o ano todo. Sim, mas não precisa se assustar, pois vou explicar como funciona.

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Trabalhe! Trabalhe! Trabalhe! Foto: Arquivo Pessoal

Cada ano tem uma data para início dos trabalhos. No 2020 in Review, comecei a pré-produzir as listas em junho (especificamente, a de melhores e piores álbuns). Essa etapa consiste apenas na criação de uma planilha com todos os projetos que eu ouvi no ano, sendo preenchida a cada momento em que um álbum novo é descoberto. Cada um deles tem o seu país de origem anotado e recebe uma nota para facilitar a minha organização. Como o site tem uma política de evitar atribuir ou divulgar notas para álbuns (assunto para outro texto), estes dados não são publicados.

Quando chega novembro, esta planilha é analisada para que seja feito um diagnóstico das listas que chegarão mais tarde. O Kolibli defende a globalização musical e a representatividade, seja ela musical ou social. Portanto, entram na balança estes aspectos na hora de montar a lista, fazendo com que sejam feitas novas pesquisas ou não. Por exemplo, se constato que a lista tem poucos álbuns oriundos da África, é feita uma nova pesquisa para encontrar projetos e histórias interessantes que tenham passado despercebidas por mim em 2020. Porém, como colocado nos próximos parágrafos deste texto, isso nem sempre sai como planejado. A ideia, ao menos, é evitar que as listas sejam excessivamente centradas nos Estados Unidos ou dominadas por um gênero só.

Já as listas de músicas e clipes envolvem um trabalho um pouco diferente por serem feitas apenas em dezembro. Com a ajuda de um mapeador de hábitos musicais (em outras palavras, o bom e velho last.fm), os meus artistas mais ouvidos de 2020 são analisados, um por um, e os seus trabalhos são “submetidos” em playlists que crio para que sejam levadas ao corte final. Da mesma forma que faço com os álbuns, a diversidade em geral é considerada e os diagnósticos são feitos.

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Ouvir música: gostoso demais! Foto: Reprodução

E quanta música você ouve para fazer as listas?

Infelizmente este não foi um ano muito propício para que eu consumisse música da forma como eu esperava, mas nas últimas semanas fiz esforços para retomar o tempo perdido. Por conta disso, a preocupação maior é sempre com a com a lista de álbuns, já que eles necessitam de um prazo maior. Fazendo uma autocrítica, considero que o número de álbuns ouvidos necessários para fazer listas mais interessantes seja de 150 para cima, independente do número de itens. Consegui ter contato, ouvindo em sua maioria de forma completa, com 120 a 200 álbuns em 2020. Como o tempo é curto, as pesquisas foram pontuais a fim de não se “perder tempo” com projetos que demonstraram que não iriam entrar no meu gosto de jeito nenhum. Não acho que seja o formato ideal, mas é o que vejo como factível de acordo com a minha disponibilidade.

Músicas e clipes, que são formatos mais simples e que não precisam do tempo de análise que um álbum tem, aparecem em maior número nas listas. É impossível dizer quantas músicas e clipes de 2020 eu tive contato durante o ano, mas “submeto” ao menos 200 músicas e em torno de 150 clipes para o corte final.

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Rosalía: a cantora catalã que varreu tudo no nosso 2018 in Review. Foto: Reprodução

Corte Final: quem vai, quem fica

Essa é a parte em que as coisas ficam mais sérias. Com as listas praticamente fechadas, se faz um novo diagnóstico sobre o teor delas. Acredito que criar uma seleção desse tipo é um trabalho muito delicado, pois é a minha impressão, como redator, do que foi representa o ano. É resumir o que não se resume — e o que não termina nunca, já que sempre surgirá um álbum perdido que não ouvi durante o ano e as minhas opiniões sobre certos projetos mudarão com o tempo (e isso é natural). Por conta disso, as escolhas do primeiro lugar e os respectivos top 10 são muito importantes, já que a decisão envolve, em sua maioria, o meu gosto musical (e não há porque em ser diferente), mas impacto e importância para o meio musical podem alavancar (ou derrubar) certos trabalhos. Se fosse tudo sobre o meu gosto, seria mais fácil apenas colocar aqui os prints da retrospectiva do Spotify ou last.fm, né? As plataformas auxiliam na escolha, mas o corte final leva em conta muito mais.

Por exemplo, no ano passado, Sheena Ringo foi de longe a minha cantora mais ouvida e teve uma vitória tranquila na lista de Melhores Álbuns com o projeto “Sandokushi”. “Nezemnaya”, de Max Barskih também venceu a lista de Melhores Músicas com um apelo pessoal que conseguiu desbancar “Con Altura” de Rosalía, J Balvin e El Guincho e “Bad Guy” de Billie Eilish, respectivamente segunda e terceira colocadas.

Hora de entregar!

Após refazer as listas mais de um milhão de vezes até fechar o número de itens em cada uma delas, chega a parte final do processo. Nessa etapa, são criados os textos e playlists que são divulgados para que você tenha uma visão 100% fiel do que foi o ano sob a minha ótica e com os valores que o Kolibli tem. Aproveite e descubra artistas novos. Elogie ou conteste certas posições. Estamos aqui para isso!

Para fechar, um papo rápido sobre as listas “negativas”

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Liam Payne, agraciado com o título de “Pior álbum de 2020”. Foto: Reprodução

Tem muita gente na Internet que sente prazer em falar mal de todo mundo, muitas vezes sem propósito. E ler então? Aqui mesmo no blog, o nosso post mais lido é o de Piores Músicas de 2020. É divertido ler coisas positivas sobre artistas que gostamos e, muitas vezes, coisas negativas sobre os que odiamos. É algo natural. Porém, é importante dizer que, ao menos aqui no Kolibli, elas não são caça-cliques ou desesperadas por atenção. As listas “negativas” tem uma função que julgo crucial: assim como se abre um espaço para elogiar e destacar o que de melhor o ano teve, também é saudável apontar o que não deu tão certo, no limite da ética e do bom senso, já que o objetivo é que sempre tenhamos um mundo musical melhor. Do outro lado, mesmo que os artistas citados nem saibam que o Kolibli existe, tem uma pessoa que é humana como eu e que merece saber que fazer música boa ou ruim é um conceito completamente subjetivo que não resume como ela é fora disso. Todos os profissionais, em qualquer área, podem fazer trabalhos ruins e tá tudo bem (eu, inclusive). O importante é estar aberto a críticas e buscar evoluir sempre.

Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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2 thoughts on “Como são feitas as listas do blog?

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