Após o fim do duo ucraniano Vremya i Steklo em 2020 – e que, pode facilmente ser apontado como o ato pop de maior sucesso no Leste Europeu durante a década passada – Nadya Dorofeeva e Positiff seguiram seus caminhos. Dorofeeva, que agora assina seus novos trabalhos utilizando apenas o sobrenome, sempre demonstrou ter potencial para ser a nova queridinha do pop russo em uma possível carreira solo. O primeiro EP desta nova etapa, intitulado “dofamin”, é uma boa prova de que a cantora ucraniana não perdeu o carisma dos tempos de “Navernopotomuchto” e “Troll”.
“Gorit”, primeiro single do EP, foi uma escolha acertada que deu o pontapé inicial que Dorofeeva merecia. A música reúne o que de melhor (mas também mais corriqueiro) temos no pop russo: aquela nostalgia de dance-pop misturada com fragmentos de deep house que sempre amamos – e que, a esse ponto, já pode ser considerada um gênero musical próprio (leia nossa resenha de “Bestseller“). O “la la la” que gruda na mente é uma tática velha na música pop, mas aqui parece ser a mais nova moda vinda de Kiev. Os pratos em boa parte da música dão um bom contraste e ritmo, e então, o resultado é um grande sucesso que já soma 40 milhões de visualizações no Youtube.
A atitude e sensualidade de Dorofeeva são coisas que parecem muito mais afloradas e outorgadas na pequena amostra de “dofamin”. O duo Vremya i Steklo teve um êxito enorme, mas muito disso tinha a ver com o pop colorido “livre para todas as idades” feito por eles. Quando ambos foram para um lado mais, digamos, sugestivo, a chuva de deslikes veio com toda a força. Agora, Dorofeeva pode explorar melhor seu lado femme fatale e isso não se resume ao excelente clipe de “gorit” e o seu refrão (“Faça a minha alma queimar, eu quero até de manhã, mas talvez por mais tempo, talvez para sempre”). “A tebe”, faixa que abre o projeto, tem uma produção mais puxada para o r&b, mas ainda sob as regras do pop, reivindicando aquele papel de “love song” do EP. O curioso fica por conta da edição dos vocais de Dorofeeva, que são alterados a um ponto em que é difícil dizer se é bom ou ruim, mas há de se reconhecer que demonstra personalidade. Fechando o projeto, “zavisimost” tem uma pegada parecida, mas não intriga tanto como a abertura do EP.
O exagero na entrega para as pistas de dança (como “bam bam”, que é a melhor entre as três músicas que o público ainda não conhecia) é o que faz do EP de Dorofeeva um bom ponto de início para a cantora e deve ser visto apenas como isso. “Dofamin” não é uma obra-prima ou um projeto definitivo, mas sim, um bom teaser de uma nova (porém, muito conhecida) versão de uma artista que certamente tem “H2LO” e “Racine Carrée” na biblioteca.
“dofamin” (EP) – DOROFEEVA
País: Ucrânia
Kolibli Recomenda: “gorit”, “bambam”
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