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#2020InReview começa a relembrar os álbuns lançados em 2020, formando assim a última parte da nossa retrospectiva musical. Antes de falarmos dos bons projetos, precisamos colocar na mesa o que não funcionou muito bem neste ano. Não sei se é apenas uma impressão (ou se eu fugi de muita coisa triste), mas acredito que 2020 não tenha sido de álbuns tão ruins como em outros anos anteriores. Por ruim, eu digo “ao ponto de irritar e pedir aos céus pelos minutos de vida perdidos com tal álbum”. O que mais percebemos, por outro lado, foi o número de projetos medianos ou decepcionantes. De qualquer forma, a tradição no Kolibli precisa ser seguida, pois não há boa música sem crítica e reflexão. Para um 2021 melhor na arte que amamos tanto, esperamos que os artistas não sigam as ideias dos que foram citados neste post. Observação: nas listas de melhores e piores álbuns, colocamos alguns EPs pois não achamos oportuno criar um post separado e hoje os dois formatos têm se cruzado bastate.

Aqui estão as menções desonrosas (e pela conjuntura do ano, decepcionadas) e os 10 piores álbuns de 2020:

“Smile” — Katy Perry
“Perfume” — Daniela Mercury
“Positions” — Ariana Grande
“The Album” — Blackpink

Top 10

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10. “Heaven and Hell” — Ava Max

debut da cantora pop Ava Max não chega a ser criminosamente ruim, mas tampouco motiva o ouvinte a conhecer mais sobre o seu trabalho. A bem da verdade, o material de “Heaven and Hell” é o tipo de pop que os haters de Madonna ou Lady Gaga acham que ambas fazem. Falta personalidade e produções tão ambiciosas quanto “Torn”, mas vale lembrar, mais uma vez, que como este é apenas o seu primeiro álbum, Ava poderá evoluir naturalmente nos próximos anos.

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9. “Eternal Atake” — Lil Uzi Vert

Provavelmente o álbum mais superestimado de 2020, “Eternal Atake” é uma enfadonha e repetitiva viagem por produções pouco inspiradas e performances idem. A bizarra “Pop”, colocada na nossa lista de melhores músicas de 2020, é uma exceção em meio a um projeto completamente mais do mesmo.

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8. “Father of All…” — Green Day

Recebido como um dos piores álbuns do ano, “Father of All..” no fim das contas não chega a ser tão péssimo assim. É um álbum genérico de pop rock, que remonta vários clichês do gênero e passa longe das grandes obras conceituais que a banda já fez. A produção também é de entristecer, já que a mixagem parece muito estranha em algumas músicas e os vocais de Billie Joe o mesmo. Mas vergonha mesmo é divulgar o álbum com empáfia e preconceito.

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7. “Máquina do Tempo” — Matuê

A estreia do primeiro álbum de Matuê não poderia ser melhor, já que chegou quebrando recordes no Spotify Brasil. E justamente por todo essa fama, “Máquina do Tempo” merece um espaço nesta lista por ser o contrário do seus números. É um álbum que pouco diz, mas o que acaba trazendo é feito sob medida para habitar todas as playlists do Spotify e os sistemas de som de barbearias por todo o país, já que não oferece nenhum tipo de risco ou traço de personalidade ao ouvinte. É apenas uma mimetização bem feita do que sai no trap estadunidense. E não podemos esquecer do momento em que ele se desculpa por transar com a prima do amigo.

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6. “Treat Myself” — Meghan Trainor

Mesmo mais antenada nas tendências (uma Billie Eilish ali, uma Ariana do passado aqui), Meghan Trainor falha novamente em lançar um álbum que a coloque de vez como uma opção interessante na música pop estadunidense. “Treat Myself” é inconsistente, heterogêneo e não tem algo muito marcante além da bizarra letra de “Genetics” com as Pussycat Dolls.

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5. “Ouro” — Vitão

As letras do álbum em sua maioria são bem decentes (mesmo com aquela história de de dar p*rocada até chegar no coração da menina), mas a produção em geral é tão genérica e sem sal que coloca Vitão como uma figura da indústria que apenas veio para preencher uma lacuna entre um som r&b que fale de sexo (muito, muito sexo) tipo Baco Exu do Blues e o pop shimbalaiê assustador de Melim e afins. É uma pena, mas esperamos que os próximos projetos sejam diferentes.

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4. “Por primera vez” — Camilo

Conhecemos este álbum por conta do Grammy Latino, já que a premiação o indicou a álbum do ano (e felizmente perdeu). “Por primera vez” é um projeto curto, mas o timbre bizarro de Camilo e as produções genéricas entre o pop acústico e o reggaeton — que aparecem por todo o álbum — fazem dele uma experiência dolorosa que parece muito maior.

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3. “Não tem bacanal na quarentena (EP)” — Baco Exu do Blues

Sempre se espera muito de Baco Exu do Blues, um dos maiores expoentes do rap nacional atual, mas em “Não tem bacanal na quarentena”, EP que ganha status de álbum aqui, o artista simplesmente parece um robô programado para repetir ideias que seus fãs e a bolha de esquerda do Twitter querem ouvir. Basta ver os títulos: “Amo Cardi B e odeio Bozo”, “Preso em casa cheio de tesão”, “Tropa do Babu”, etc. Mesmo que tudo tenha sido produzido em apenas 3 dias, esta questão não pode ser encarada como um motivo para que Baco não conseguisse lançar um projeto mais atemporal sobre um momento histórico como esse, sem necessariamente ser feito nessa mesma duração.

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2. “Changes” — Justin Bieber

“Changes” parece ser um espaço artístico seguro para Justin Bieber e sua esposa, Hailey Baldwin, após passar por sérios problemas de saúde como a depressão e a doença de Lyme. Infelizmente, ele não serve como um sucessor à altura do bom álbum “Purpose”, que marcou o renascimento do cantor no mainstream e elevou o seu patamar de uma vez por todas.

“Changes” parece bem intencionado em alguns momentos por conta de seu repetitivo melodrama romântico, mas o que não fica muito bem aqui é a produção. As batidas são muito pobres — feitas para tentar angariar playlists no Spotify — e, em alguns momentos, lembram ringtones dos celulares antigos da Nokia. De polêmico nesse álbum, só o desesperado single “Yummy” e seus vários remixes em que Justin abandonou a pose apaixonada para assumir uma busca imprudente pelo #1 na Billboard (e não conseguiu).

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1.”Translation”— Black Eyed Peas

Neste ano, a pauta da apropriação cultural não foi tão discutida mas redes sociais como há alguns anos, época que rendeu discussões intermináveis sobre o assunto. Do ponto de vista editorial (que podemos discutir em outro texto), acreditamos que é impossível não se “apropriar” algo de outras culturas, mas a forma como se faz isso pode ser analisada, caso a caso, para que não se caia em exageros.

Por exemplo, vamos pensar um pouco sobre o Black Eyed Peas e o interesse recente do grupo pela música latina. Até nos acostumamos com o sample ultrajante de “Ryhthm of Night” no single “Ritmo”, mas o resto do álbum “Translation” reservou coisas piores que são resultado do sucesso da canção com J Balvin.

Porém, ao contrário do próprio cantor citado acima, que, diga-se de passagem, é um dos melhores reggaetoneros no mainstream e que constantemente experimenta novas nuances em suas músicas (como por exemplo, a canção Machika e a fusão do espanhol com a língua papiamento), o grupo Black Eyed Peas se jogou no mercado latino como quem achou 20 reais na rua.

Will.i.am, produtor experiente que é, com certeza viu neste ambiente a oportunidade de fazer muitos números. E francamente, não há problemas em criar músicas para o mercado latino, mas a forma que se faz é o que diz se isso é legal ou não. “Translation”, nesse caso, é um álbum que não é bem sucedido nessa tarefa. É um conjunto terrivelmente caricato que nem os álbuns da Copa foram capazes de fazer. Não há muitas ideias aqui, já o projeto era reunir um bom número de artistas famosos do reggaeton (como Shakira e Ozuna) e espremer um livrinho de “Conversação Básica em Espanhol” até fechar uma hora de disco. Só.

Quando não aborrece pela redundância de “mamacita” pra cá, “chica” pra lá (que fique claro que essa não é uma crítica ao espanhol do grupo, mas sim, à reprodução de estereótipos e lugares comuns), a produção também deixa suas marcas de preguiça como na canção “Vida Loca”. Nela, o Black Eyed Peas mistura samples de duas das músicas mais saturadas na música mundial: “U Can’t Touch This” de MC Hammer e “Pon de Floor” do grupo Major Lazer. O fechamento do álbum? Uma tenebrosa balada midtempo sobre a Covid-19 com o carisma de um Fandangos aberto e a profundidade de uma poça. É amigos, este é o pior álbum de 2020.

Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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