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O Kolibli dá início ao #2021inReview com um dos textos mais difíceis de se fazer, já que precisamos falar sobre não só sobre uma música ruim, mas um conjunto delas. Confira os 10 piores álbuns de 2022 de acordo com o Koli!

Como já dito anteriormente na carta que abriu a retrospectiva, 2022 foi um ano de intensa mediocridade, então não tivemos tantos álbuns criminosamente ruins como antes. E também vale lembrar que o objetivo da lista não é fazer bullying com o seu amigo que resolveu ser músico e lançou umas demos no Youtube durante a eleição, mas sim falar sobre artistas que merecem e aguentam o tijolo. Assim como se abre um espaço para elogios a artistas, é necessário também abrir um local para críticas, já que não há progresso sem elas.

Cada álbum citado na lista ganhará uma nota que será publicada no nosso AOTY em breve. Estas notas podem ou não condizer com as posições na lista, já que o post leva em conta questão que vão além da resenha normal, como impacto pessoal e mercadológico. Além dos 10 projetos citados, vale dar algumas menções desonrosas para discos nem tão ruins assim ou para EPs (já que não são álbuns).

Menções desonrosas

“The Car”, Arctic Monkeys / País: Reino Unido
“MAYBE PERFECT”, DAI DAI DAI / País: Japão
“À Procura da Anitta Perfeita” (EP), Anitta / País: Brasil
“Magnétikah” (EP), Lexa / País: Brasil
“Magma”, Alvan / País: França
“LITTLE LOVE”, MC Cabelinho / País: Brasil
“Honestly, Nevermind”, Drake / País: Canadá
“TM”, BROCKHAMPTON / País: Estados Unidos
“I Am Emma (EP)”, Emma Muscat / País: Malta

10. “Onda Boa Com Ivete” , Ivete Sangalo
País: Brasil

“Onda Boa com Ivete” é um projeto que chegou de forma tímida para um álbum que é o seu primeiro (solo) de estúdio em 10 anos, mas dá para se entender os motivos. Ele faz parte de uma série da HBO com uma proposta até bem interessante: Ivete recebe artistas em uma fazenda isolada e cada episódio mostra ela passando o dia com a pessoa e depois fazendo uma música. A execução, no entanto, é bem sem gosto e clichê. Com a exceção da música feita com o experiente Carlinhos Brown, o resto é totalmente descartável (sobretudo as faixas solo). É de longe o pior projeto da carreira de uma mulher que a esse ponto não precisa mais provar nada, mas jogar Zolpidem sonoro no povo brasileiro também não é legal.

Se salva: “Mexe a Cabeça”
A pior é: “Acalme Sua Alma”

9. “Come Home the Kids Miss You”, Jack Harlow
País: Estados Unidos

Novo queridinho do rap estadunidense, Jack Harlow mal atingiu o sucesso e já parece sem fôlego. Seu segundo álbum de estúdio, “Come Home The Kids Miss You”, recebeu uma merecida reprovação crítica quase unânime por conta da falta de repertório do rapper. Aqui também não seria diferente. É um álbum tão monótono e repetitivo que nem para ser trilha de barbearia serve. Começa confortável, inofensivo, mas certa hora se torna completamente enfadonho. Jack passa todo o projeto com o mesmo flow, batidas pouco animadoras e a sensação de que todo esse time de compositores e produtores não estava afim de trabalhar. Faltar as sessões no estúdio com algum atestado seria melhor.

Se salvam: “Dua Lipa”, “Nail Tech”
A pior é: “Parent Trap”

8. “AGUILERA”, Christina Aguilera
País: Estados Unidos

Assim como todo branco brasileiro na hora do Enem, é hora dos cantores estadunidenses encontrarem latinidade nos pais e avós para enriquecer os lançamentos em espanhol. Apesar do exagero, o caso de Christina Aguilera até se justifica pois ela tem um pai equatoriano, mas em seu novo projeto ela soa como mais uma destas fraudadoras de cotas que no desespero vestiu uma roupa que não a cabe. 

“Aguilera” é mais um projeto superficial que tenta mascarar esta falha com algum tipo de estética mais arrojada, como na capa ousada em preto e branco. De geral, não há nada aqui que não seja feito muito melhor por outros artistas (do reggaeton genérico ao aceno à música mexicana, como na interessante “Cuando Me Da Gana”).

Se salva: “Cuando Me Dé La Gana”
A pior é: “Pa Mis Muchachas”

7. “Special”, Lizzo
País: Estados Unidos

É impressionante como um álbum pode encapsular tão bem uma personalidade específica. No caso de “Special”, Lizzo “triunfa” ao criar um projeto que é quase como se fosse uma irritante “fag hag” (no Brasil seria algo como “Maria Purpurina”). É aquela menina que “ama os gays e os gays a amam”. E neste álbum todo mundo é gay, como a própria canta na faixa 8. Mas claro, o excesso de glitter é a muleta para um projeto que não tem a sagacidade do anterior, “Cuz I Love You”.

A atitude de Lizzo segue forte, mas de resto fica quase nada além de um discurso muito cansado e batido de positividade que não cabe fora das lojas da Renner e das trilhas de alguns TikToks. Entendo a necessidade de se criar um projeto para aproveitar o sucesso de “About Damn Time”, mas “Special” poderia tratar dos mesmos temas sem parecer tanto como trilha alternativa de “As Branquelas”.

Se salva: “About Damn Time”
A pior é: “I Love You Bitch”

6. “ELEVATION”, Black Eyed Peas
País: Estados Unidos

É impressionante o esforço feito pelo Black Eyed Peas em quase lançar o pior álbum de dois anos diferentes. Como “Elevation” é uma versão mais aguada e sem criatividade (então imagine) do projeto anterior, é menos ofensivo. Não sei se foi opção do grupo, mas o número de participações com artistas latinos caiu consideravelmente. Abrindo o álbum, temos “Simply The Best” com a nossa Anitta – e que para a surpresa de poucos é uma faixa genérica – mas que funciona muito bem. Fora disso, mais um projeto em que o grupo tenta surfar na “onda latina” com muita sede, mas pouco afinco para de fato criar algo realmente memorável.

Se salva: “SIMPLY THE BEST”
A pior é: “DON’T YOU WORRY”

5. “Queen of Rap”, INSTASAMKA
País: Rússia

Em um país facilmente impressionável com qualquer tipo de demonstração de sensualidade, a rapper russa Instasamka surge quase como uma bomba (sem intenção de fazer piada… ou sim). Mas ainda falta muito para que a artista seja de fato uma “Queen do Rap” como o nome de seu disco impõe. Ela tem uma abordagem bizarra que lembra uma mistura de Nicki Minaj e Charli XCX, mas que não chega nem perto do padrão de qualidade das duas. Em alguns momentos, “Queen of Rap” soa como uma inteligente crítica ao rap americano como um todo ao transformar o gênero em caricatura.

Se salva: “BALANCE”, “LIPSI HI”
A pior é: nenhuma em especial pois todas são meio parecidas

 

4. “God Did”, DJ Khaled
País: Estados Unidos

A essa altura do campeonato já se torna repetitivo e cansativo falar as mesmas coisas sobre DJ Khaled. O produtor estadunidense volta com um projeto significativamente melhor do que seus anteriores (fato que até rendeu algumas indicações ao próximo Grammy), mas ainda não é quase nada. Se você curte ouvir artistas famosos falando nada com nada em cima de batidas imemoráveis, “God Did” é para você.

Se salva: nada. A minha resposta virá nas urnas.
A pior é: “Staying Alive”

 

 

3. “Takin’ It Back”, Meghan Trainor
País: Estados Unidos

Graças ao sucesso de “Made You Look”, tivemos um dos piores acontecimentos de 2022: Meghan Trainor de volta ao mainstream mundial. É um pouco cruel descreditar uma artista com tanta veemência assim, mas desde “All About That Bass” (2014) recebemos milhares de provas de que Trainor é uma das mais fracas desta geração. Ela ainda insiste em repaginar de forma irritante o doo-wop (que é um gênero que envelheceu muito mal) e segue no modo ultragenérico quando faz o pop tradicional. Não consigo imaginar como alguém em sã consciência colocaria estas 16 músicas para tocar em qualquer lugar (exceto algum funcionário da Renner ou Riachuelo prestes a ser demitido).

Se salva: “Mama Wanna Mambo”
A pior é: “Drama Queen”

2. “QVVJFA?”, Baco Exu do Blues
País: Brasil

De frase pronta aqui a outras acolá, “QVVJFA?” foi um sucesso pois reproduz tudo que universitários lulistas (não que eu não seja um) falam todo dia no auge de suas cafonices. Como Baco diz na faixa “Imortais e Fatais 2” em participação com Vinícius de Morais (!), ele é “vítima da falta de abraço no mundo”. Não há nada aqui que vá além do superficial ou que não soe como aquela foto com boné do MST que homem de esquerda usa no Tinder para atrair mulher. O Baco mais inventivo e revoltado de “Bluesman” deu lugar ao Baco do EP “Não tem bacanal na quarentena”, que pauta tendências políticas e estéticas que geram discussão no Twitter. Se esse r&b contemporâneo brega e repetitivo é algo para se ouvir num momento de muito tesão com seus parceiros (ou parceiras), gostaria de anunciar hoje um voto de castidade. Talvez transar nem seja tão bom assim.

Se salva: olha…
A pior é: “Imortais e Fatais 2”

1. “Chama meu nome”, Pedro Sampaio
País: Brasil

Para a festa de lançamento do seu primeiro álbum, Pedro Sampaio chegou ao local acompanhado da influenciadora Gkay com roupas que fazem referência a um look de Kim Kardashian. Toda esta pompa é mais um episódio em que o DJ usa de artifícios para encobrir a frivolidade de suas músicas.

É importante lembrar deste evento pois é engraçado notar que Pedro e Gkay têm uma trajetória parecida em alguns aspectos, como o passado humilde, a ascensão meteórica ao topo e a soberba. Gkay agora lida com a pior fase de sua carreira, fruto de comportamentos compatíveis ao de uma pessoa que se deixou seduzir demais com a fama. Com Pedro, o mesmo aconteceu, mas sem que seja cancelado por ser esnobe, mal-educado ou arrogante como a amiga. Assim como alguém que se sente confortável para se portar como Gkay no programa “Lady Night” de Tata Werneck, Pedro se sente orgulhoso ao lançar um álbum tão pobre como “Chama Meu Nome”

O DJ carioca surgiu como um agente novo e interessante no pop brasileiro (um produtor-MC) ao lançar músicas energéticas com ares renovados e uma ânsia por misturas, como no hit “Sentadão” ou em “Vai Menina”. Porém, tudo piorou após o sucesso de “Balança” (2020), que foi “remixada” várias vezes de forma não oficial pelo artista nos anos seguintes. O single é bom (não me entenda mal), mas foi a pedra fundadora da pior versão que conhecemos de Pedro Sampaio. Muitas das grandes músicas desta fase estão no álbum, como a dadaísta “Atenção” com Luisa Sonza, a preguiçosa “No Chão Novinha” e a criminosa “Galopa”. Outras mais novas, como os hits “Dançarina” e “Bagunça”, seguem a mesma fórmula cansada: muito autotune e beats que se aceleram ao chegar nos refrãos grudentos. A letra não precisa fazer sentido algum, como na famosa frase “tá viciada em sentar com a bunda”.  As referências sempre são muitas, como Lil Nas X e o próprio ex de Kim Kardashian, Kanye West, mas no final servem para nada.

O pior de tudo é que além dos singles, sobra quase nada em “Chama Meu Nome”. Falha em ser divertido para festas, seu principal objetivo (tente colocar ele em alguma reunião com seus amigos e muitos deverão entender que é a hora de ir embora). Falha em ser um bom cartão de visitas para novos ouvintes. E, sobretudo, falha ao tentar se destacar nesta terra de ninguém que virou o pop brasileiro. Quando se conquista um espaço praticamente garantido por mais alguns anos na mídia brasileira, é tentador desistir de ousar. Não é preciso criar uma tese ou um audiobook de Fernando Pessoa para se fazer boa música pop, mas sim trazer algo que não desafie tanto a inteligência do público brasileiro. 

Se salva: “Atenção” e “No Chão Novinha” são escutáveis em festas
A pior é: “Galopa”


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Sobre o autor

Matheus Rodrigues

Jornalista formado em 2023 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Apaixonado por música, culturas diferentes, futebol e Coca Zero. Obcecado por Eurovision e pop do leste europeu. Torcedor do imenso Sport Club Internacional.
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