Para a segunda edição do nosso quadro Resenhas Curtas, iremos falar sobre alguns álbuns que receberam indicações ao próximo Grammy 2022 (confira todos os indicados aqui). Alguns nomes já são conhecidos por quem acompanha o site há um tempo, como a Nathy Peluso, mas também analisamos outros grandes projetos que não tivemos a oportunidade de comentar durante o ano. Como ainda tem muito álbum interessante indicado e pouco texto aqui no site, não esqueça de sugerir qual merece a nossa atenção para um novo texto especial de Grammy.
Para hoje, iremos discorrer sobre:
- “Sour”, Olivia Rodrigo;
- “Positions”, Ariana Grande;
- “Medicine at Midnight”, Foo Fighters;
- “Calambre”, Nathy Peluso;
- “Certified Lover Boy”, Drake;
- “Happier Than Ever”, Billie Eilish.
Aviso importante: enquanto o post era produzido, Drake pediu para a Academia retirar as indicações que recebeu no Grammy e o pedido foi atentido. Mesmo que o motivo possa ser dos mais nobres (ou não), deixamos a resenha do álbum “Cerfified Lover Boy” aqui para mostrar a vocês que quem ganha é o bom senso.
Notas: 0 a 4,5 (avaliação ruim ou péssima), 5 e 5,5 (avaliação mediana), 6 a 10 (avaliação positiva ou excelente).
O selo #KolibliRecomenda vai para álbuns e EPs com nota superior a 7,5.
“Sour”, Olivia Rodrigo
País: Estados Unidos
Quando estamos deixando a adolescência e entrando na primeira fase da vida adulta, sentimentos como liberdade – mas também decepção com a realidade – começam a surgir. O álbum de estreia de Olivia Rodrigo (que tem apenas 18 anos), foi concebido neste universo e parece a trilha perfeita para qualquer série teen da Netflix. Contudo, a cantora consegue subverter muitos dos clichês de álbuns neste estilo com letras que vão um pouco mais além.
“Brutal”, faixa que abre o álbum com um rock alternativo maluco, talvez seja a melhor de todo o projeto por conta da sinceridade de Olivia ao falar sobre esse momento da vida (“eu sou tão insegura que poderia morrer antes de poder beber”). Os singles “drivers licence” e good 4 u” também são bons exemplos de composições que tem a capilaridade necessária para serem sucessos entre diferentes faixas etárias. Na primeira música citada, a letra poderia ser de qualquer outra artista pop um pouco mais velha que ela sem que fosse um grande caso. Em “good 4 u”, ela faz um bom apanhado do pop rock da virada dos anos 00 para os 10, sendo divertida o suficiente para a geração dela e para outros jovens adultos nostálgicos por bandas como o Paramore (que até foi creditada na canção).
“Sour” não é perfeito e muito menos serve para todos os públicos. A partir da segunda metade do álbum, é perceptível que a habilidade de Olivia para escrever canções românticas vai se esgotando e torna o projeto um pouco “mais do mesmo”. De qualquer forma, é um debut de peso (ainda mais para um álbum feito quase inteiramente pela cantora e o seu produtor, Dan Nigro) que mostra Olivia Rodrigo como uma estrela que pode ser muito mais do que uma tendência passageira.
Nota: 7/10
Melhores músicas: “brutal”, “good 4 u”, “deja vu”, “enough for you”
Para quem gosta de: pop americano, folk pop
“Positions”, Ariana Grande
País: Estados Unidos
Nada inspirado, “Positions” é de longe o álbum mais fraco da carreira de Ariana Grande. Com 41 minutos de duração e 14 músicas, talvez fosse melhor que a cantora reduzisse ao menos quatro ou cinco faixas da setlist para que o projeto não ficasse tão uníssono. A produção é tão chatinha e repetitiva que faz até o razoável lead single homônimo se destacar (como se também não fosse nada de mais).
Apesar da preguiça, também é difícil rotular o álbum como ruim, já que conta com várias músicas minimamente aceitáveis, como a excelente “safety net”, que é filha mais nova de “BUWYB,IB”, e o proibidão r&b “34+35”, que é tão sexualmente excêntrica quanto uma participação de Valesca Popozuda e Mr. Catra.
Nota: 5/10
Melhores músicas: “safety net”, “my hair”, “34+35”, “shut up”, “motive”.
Para quem gosta de: r&b contemporâneo, pop, trap.
“Medicine at Midnight”, Foo Fighters
País: Estados Unidos
Com a exceção de algum momento aqui, outro ali – como “Shame Shame”, que tem a cara de David Bowie na era “The Next Day” (2013), “Medicine at Midnight” é um álbum modesto. Não há qualquer sinal de que o Foo Fighters tenha tentado fazer deste projeto algo mais pomposo e memorável. É aquele feijãozinho com arroz que a banda sabe fazer (e por isso pode funcionar para alguns), mas nada além disso.
Nota: 6/10
Melhores músicas: “Shame Shame”, “No Son of Mine”, “Making a Fire”.
Para quem gosta de: rock alternativo, hard rock.
“Calambre”, Nathy Peluso
País: Argentina/Espanha
A atual detentora do título de Música do Ano em nosso site não é uma desconhecida para quem nos acompanha há mais tempo, mas sempre merece a lembrança. Nathy Peluso é uma das artistas mais autênticas do mainstream latino e, felizmente, “Calambre” a ajudou a receber o reconhecimento que merecia.
É um projeto que não tem pé, nem cabeça, mas em um sentido mais positivo que negativo. Nathy canta bem, como em “Buenos Aires”, mas também ataca de rapper, trap star, salseira… É um álbum que joga tantas referências que é até difícil colocar em poucas palavras, mas vale a atenção, já que o melhor de Nathy ainda está por vir (esperamos).
Nota: 8/10 – Kolibli Recomenda
Melhores músicas: “BUENOS AIRES”, “PURO VENENO”, “SANA SANA”, “BUSINESS WOMAN”, “DELITO”.
Para quem gosta de: pop latino, pop rap, r&b contemporâneo.
“Certified Lover Boy”, Drake
País: Canadá
Pior que lançar um álbum ruim? Só um álbum que também representa comportamentos ruins. “Certified Lover Boy” é um grande manifesto de quase tudo que há de errado no estado atual da música mundial. Representa um artista que há anos parece confortável com seu próprio sucesso e que mais uma vez lança um projeto imenso sem motivo algum (a não ser encher os próprios bolsos). Pra que lançar um álbum de 10 ou 13 músicas se eu posso fazer um com 20 e assim gerar mais chances de bater algum recorde irrelevante no Spotify? Bons hits como “Hotline Bling”, “One Dance” e “God’s Plan” foram lampejos que mascararam a mediocridade dos álbuns anteriores “Views” (2016) e “Scorpion” (2018), mas aqui não há boia salva-vidas que consiga dar jeito.
É importante dizer que não há nada em “Certified Lover Boy” que seja inaudível (com a exceção, quem sabe, de “Way 2 Sexy” e o sample insuportável dessa música aqui). Muito pelo contrário: o álbum cai bem como música de fundo para barbearias. Já ouviu a expressão “pop de loja de roupa”? Aqui é a mesma coisa, só que rap. É um álbum que funciona quando o objetivo é colocar um trapzinho de fundo para não ficar aquele silêncio no salão, mas é desgastante para se ouvir em um ambiente mais pessoal ou com mais atenção. Assim como as letras (destaque para a piada de tiozão sobre “ser lésbico” em “Girls Want Girls”), a produção é pouco inspirada e passa a impressão de que estamos ouvindo uma grande música única com 1 hora e 20 minutos de duração.
A melhor faixa no álbum é “No Friends In The Industry”, que resgata um pouco da energia apresentada na mixtape “If You’re Reading This It’s Too Late”, mas é mais uma faixa em que Drake força a barra fingindo ser odiado pelos colegas da profissão. “Certified Lover Boy” conta com participações de ao menos 15 artistas (sem contar os produtores) e dentre eles temos um pessoal do calibre de Jay Z, Lil Wayne e Future. Também foi nomeado ao Grammy 2022 em duas categorias que são definidas por votação entre os membros da academia e da mesma forma aconteceu em outras edições. Se isso é ser odiado pela indústria, procure ajuda para resolver essa mania de perseguição que não passa.
Nota: 2/10
Melhores músicas: “No Friends In The Industry”
Para quem gosta de: Drake… tem que ser muito fã.
“Happier Than Ever”, Billie Eilish
País: Estados Unidos
Para a nossa felicidade, o segundo álbum de Billie Eilish é de uma coragem louvável. Parte de uma artista muito jovem e que teve a difícil de tarefa de dar o próximo passo após uma das eras mais bem sucedidas no século. Em “Happier Than Ever”, Billie mantém algumas das estéticas do pop minimalista de “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”, mas com tons mais animados (as diferenças entre as cores das capas dos álbuns escancaram isso).
Como a faixa de abertura “Getting Older” aponta, o álbum é um desabafo de Billie sobre amadurecer e viver com a fama exacerbada que vem após tantos sucessos. Por exemplo, na perversa “I Didn’t Change My Number” ela deixa bem claro para o seu ex-affair que ela não teve que trocar de número, “só mudou a quem responde”. Em “NDA”, sigla americana para Termo de Confidencialidade, ela conta sobre o momento em que fez um ficante assinar um destes contratos após o fim da relação, bem como a sensação de desdém com a própria popularidade (“Achou que eu viria de limusine? Eu tive que guardar dinheiro para a segurança. Vi um stalker andando pra cima e baixo”). Na apoteótica faixa-titulo de quase cinco minutos, Billie surpreende com a mistura de folk pop e noise pop criando um revival emo digno dos anos 2000. Na recitação “Not My Responsability” e em “OverHeated”, a cantora expõe seu descontentamento com os comentários misóginos que recebe sobre seu corpo e a forma como se veste.
Ainda que seja menos coeso do que o já bagunçadinho “When We All Fall Asleep…”, Billie Eilish acerta ao seguir em frente e mostra que não perdeu a habilidade de inserir o público em suas narrativas e sonoridades diferentes.
Nota: 8/10 – Kolibli Recomenda
Melhores músicas: “Happier Than Ever”, “I Didn’t Change My Number”, “GOLDWING”, “Therefore I Am, “my future”, “Getting Older”, “Not My Responsability”, “OverHeated”.
Para quem gosta de: alt-pop, pop americano, electropop, cantor-compositor.
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