Chegou o momento de abrir o #2021inReview do Kolibli com chave de latão para relembrar as piores músicas que o ano teve a oferecer. Como sempre, é importante lembrar que nestas listas negativas o objetivo não é fazer bullying com artistas jovens independentes (então não espere ver o seu vizinho ou vizinha que lançou uma demo ruim no Soundcloud). O que importa mesmo é que, assim como criamos um espaço para falar do que deu certo no ano, possamos também discutir o que não funcionou pois a crítica é o alicerce do sucesso.
Caso bata aquela curiosidade mórbida, o Kolibli fez uma playlist no Youtube com todas as músicas e que você pode checar por meio deste link. Todos os citados, com a exceção das menções desonrosas, também contam com o link para o vídeo no nome.
Menções desonrosas
“Voy a Quedarme”, Blas Cantó / País: Espanha
“GALOPA”, Pedro Sampaio / País: Brasil
“Here I Stand”, Vasil / País: Macedônia do Norte
“I CAN HAVE IT ALL (feat. H.E.R., Bryson Tiller, Meek Mill)”, DJ Khaled / País: Estados Unidos
20. “Boyz”, Jesy Nelson, Nicki Minaj
País: Reino Unido
O início da carreira solo de Jesy Nelson nem precisaria das polêmicas sobre blackfishing e a sua saída do grupo Little Mix para ser um fracasso. O single de estreia “Boyz” à primeira ouvida não é tão desagradável, mas é perceptível que falta algo. Após novas tentativas, vai ficando mais difícil de ser cativado pela produção datada e a narrativa de “bad boy” que não funciona de jeito algum. E claro, também temos uma participação da pós-graduada em epidemiologia, Nicki Minaj.
19. “Girls Want Girls”, Drake & Lil Baby
País: Estados Unidos
É difícil escolher só uma música do “Certified Lover Boy” pois todas se parecem, mas “Girls Want Girls” talvez seja a revirada de olho mais sincera que tivemos em 2021. Como um grande tiozão do pavê, Drake inicia a música falando “ela disse que é lésbica. Garota, eu também!”. Entenderam? O Drake gosta muito de mulher! Humor, pessoal!
18. “PU$$Y BOY” , Egor Kreed
País; Rússia
Às vezes o rapper Egor Kreed se perde um pouco em sua persona “trapper” e esta é uma destas situações. “PU$$Y BOY” deve ser uma das piores cartas de autoafirmação sexual em 2021. “Pelo que cai (de líquido da vagina), eu devo ser o Poseidon”. Meu Deus.
17.“Atenção”, Pedro Sampaio & Luisa Sonza
País: Brasil
Dentre todas as outras lançadas pelo Pedro Sampaio em 2021, “Atenção” talvez seja a mais agradável (e mesmo assim é ruim). É inacreditável como a produção das músicas dele parecem manter um padrão considerável (com a exceção da horrorosa “Galopa”), mas as letras estão cada vez mais caindo em um dadaísmo sexual. Se você conseguiu fazer um grande hit com uma artista do calibre de Luisa Sonza, por que não criar uma música com frases menos constrangedoras que “tá viciada em sentar com a bunda”?
16° “Biutyful”, Coldplay
País: Reino Unido
Há de se reconhecer a capacidade do Coldplay em sempre levantar o sarrafo da péssimas ideias lá para o alto. Nunca duvide! Desta vez, o vocalista Chris Martin faz um dueto com ele mesmo, mas uma de suas vozes é alterada para que ele se pareça com um alien. Inacreditável.
15° “Baila Baila”, Alvaro Estrella
País: Suécia
Parece que faz parte do estatuto do Melodifestivalen (seletiva sueca para o Eurovision): toda edição precisa ter um cantor de origem latina e ele tem que criar as mesmas coisas. Mudam os nomes, alguma coisa aqui e ali, mas sempre somos presenteados com um reggaeton aguado com as letras mais genéricas possíveis. “Come here, come here, sweet bonita! Dame, dame tu cosita.” Sério?
14° “Lightning”, Helena Paparizou & Levianth
País: Grécia
Dói dizer isso de uma das cantoras mais subestimadas da Europa, mas “Lightning” possivelmente seja a pior música da carreira de Helena Paparizou. Nem sempre se acerta, mas é difícil deixar passar despercebido o dubstep bizarro e superproduzido que carrega o refrão.
13° “Won’t Sleep”, Tones and I
País: Austrália
Tones and I mais uma vez entrega não só uma, mas um álbum todo de músicas irritantes para se tocar na Renner (e o difícil foi escolher só uma). “Won’t Sleep” é uma tentativa falha de soar horripilante e interessante como, sei lá, a Kim Petras no álbum de Halloween dela (“Turn off the light”), mas com os habituais vocais sofríveis e uma letra que fala nada com nada.
12° “JUST BE”, DJ Khaled & Justin Timberlake
País: Estados Unidos
Simplesmente ofereceram uma música do Melim para o Justin Timberlake cantar. Em um álbum do DJ Khaled. É isso.
11° “Coração Cachorro”, Ávine e Matheus Fernandes
País: Brasil
Como você poderá ver nas próximas listas, esse foi ano muito legal para a música popular brasileira, mas exceções sempre existem. Uma das maiores é o hit “Coração Cachorro”, que é engraçado no contexto das redes sociais, mas uma ouvida mais particular fora desse espaço é dolorosa. O uivado, que sampleia “Same Mistake” de James Blunt, é irritante e completamente nonsense, já que o cantor fala “late coração”…
10° “Meninos e Meninas”, Jão
País: Brasil
Ao mesmo tempo que começa sendo um dos melhores momentos do álbum “Pirata”, “Meninos e Meninas” se perde totalmente a partir da “revelação de maconheiro” mais cafona que vimos em um bom tempo. Sim, o Jão sugeriu que fumou um verdinho (e não temos nenhuma crítica a isso), mas a música se transformou em um reggae (beeeeeem estereótipo mesmo) e tornou tudo tão óbvio que chegou a ser sem graça e caricato.
9° “MLK Interlude”, Justin Bieber
País: Canadá
Por mais que o Justin tente se explicar, no mínimo faltou bom senso do cantor ao colocar o trecho de um discurso de Martin Luther King em seu álbum de forma ambígua. Primeiro, pois ele parece mero enfeite para dar um tom mais profundo a um projeto que não é. Segundo, por ser um áudio que fala sobre “morrer” pelo que se acredita, sendo que a faixa seguinte se chama “Die For You” (no caso, ele morreria pela mulher dele, Hailey Baldwin). E em último lugar por ser um fragmento tão mal cortado (intencionalmente ou não) que faz parecer que Martin Luther King termina sua passagem dizendo “you died when you didn’t stand up for Justin” (você morreu quando não defendeu o Justin) quando na verdade ele fala “justice” (justiça). Mandou muito mal.
8° “Bad Habits”, Ed Sheeran
País: Reino Unido
“Bad Habits” é um ótimo exemplo de como Ed Sheeran é um dos artistas mais superestimados no mainstream anglófono atualmente. Na primeira tentativa do cantor em fazer algo mais diferente, tentou emular uma alternativa sonoramente tropical à bem sucedida era “After Hours” de The Weeknd, mas acabou acertando no pop apático de sempre. Assim como no clipe amador (inspirado, mais uma vez, no The Weeknd, ou até mesmo no Coringa), “Bad Habits” é um experimento tão triste que fez o cantor rapidamente voltar ao seu padrão insípido no single seguinte, “Shivers”.
7° “I’d Rather Die”, TRAMP STAMPS
País: Estados Unidos
Durante o ano, a banda Tramp Stamps foi um dos grupos que mais rendeu tretas na mídia estadunidense por conta das alegações de que seriam apenas “plantas da indústria” que se utilizam do feminismo e da estética indie e punk para promoção. Sendo verdade ou não, o fato é que a música delas é muito, muito ruim. O single “I’d Rather Die” é praticamente um compilado de tweets que parecem vir de 2016. Na música, por exemplo, elas falam que “preferem morrer do que ter que transar com outro cara branco” (detalhe: todas são brancas e uma delas seria casada com um cara branco). Tentaram desesperadamente receber alguns plays da militância e no fim só restaram as críticas e polêmicas. Não podemos dizer que é injusto.
6° “This Has Gotta Stop”, Eric Clapton
País: Reino Unido
Se te satisfaz ouvir um senhor de 76 anos soltar indiretas por quatro minutos para qualquer medida que proteja a população da COVID-19, “This Has Gotta Stop” é o teu jam!
5° “Good wife”, Kacey Musgraves
País: Estados Unidos
Entre todas as músicas do uníssono e entediante “star-crossed”, “Good Wife” se destaca por despertar ao menos um sentimento a mais no ouvinte: a revolta. Como pode a mulher que há três anos recebeu um Grammy por Álbum do Ano lançar algo tão sem personalidade e com letra tão medíocre (para não dizer, aliás, que quase flerta com o machismo)? Se me dissessem que essa música é alguma trilha de convenção das Mulheres Redneck dos Estados Unidos, eu acreditaria.
4° “Bença”, Juliette
País: Brasil
Aqui não é muito comum se criticar artistas novos e inexperientes com o mesmo peso dos outros, mas Juliette é uma exceção. Saiu do confinamento no programa Big Brother Brasil direto para os estúdios e foi disputada por grandes gravadoras. Etapas foram puladas em nome da ânsia do mercado por músicas autorais de Juliette, como já discutimos em um texto maior sobre a carreira musical dela. A verdade é que qualquer música do tenebroso EP autointitulado da cantora poderia figurar aqui, mas a abertura “Bença” talvez seja a cereja no bolo (podre). O problema nem mora nos vocais comuns de Juliette, mas sim na letra que até virou piada nas redes sociais. Apesar da composição ser assinada por dois paraibanos, ela parece ter vindo de qualquer agência de publicidade da Região Sudeste. “Mas é que eu venho lá do sertão… o coco é seco demais, irmão! E o preconceito еu só engulo com farinha.” Sério?
3° “I Don’t Feel Hate”, Jendrik
País: Alemanha
O Jendrik escapou do título de pior música do Eurovision no júri feito pelo Kolibli, mas aqui não tem como. “I Don’t Feel Hate” é possivelmente uma das músicas mais irritantes a passar pelo festival no Século 21. Simples assim. Você precisa ter muita cautela ao utilizar instrumentos como o ukelele e o assobio – imagine os dois juntos. É como produzir uma perigosa fissão nuclear. Perdão, Jendrik, mas se você não sente ódio, eu sinto.
2° “Masculinidade”, Tiago Iorc
País: Brasil
Tiago Iorc há um bom tempo lança músicas abaixo da crítica, mas em “Masculinidade” ele se supera. Até foi difícil colocá-la em segundo lugar nesta lista, mas considerem ela em empate técnico com a primeira.
“Masculinidade” é uma jornada de puro ego vinda de um homem branco em uma jornada intensa de vitimização. Espero que tenha sido com as melhores intenções, para abrir um debate sobre o assunto, mas o resultado parece apenas masturbação de personalidade. São seis minutos de um espetáculo de “reflexões” sobre masculinidade que em momento algum colocam Tiago como parte do sistema machista, mas sim uma mera vítima. A composição e a performance dele conseguem ser ainda piores (perceberam a batida do funk no fundo para soar pra frentex e transgressor?). É difícil ouvir “Masculinidade” sem sentir um constrangimento. Assistir o clipe da música com o corpo sarado de Tiago à mostra enquanto se contorce “artisticamente” como uma minhoca só piora a situação. E também chancela a ideia de que é tudo pelo biscoito. Agora que pedi desculpa por ser homem, fica pelada aí?
1° “Juliette, Mon Amour”, Carlinhos Brown
País: Brasil
Nada explica melhor o surto coletivo que foi (e vem sendo) o fenômeno Juliette do que uma canção-homenagem feita por Carlinhos Brown, que é um dos artistas mais tradicionais da música popular brasileira. Em “Juliette, Mon Amour”, percebemos que até uma pessoa do calibre de Carlinhos foi seduzido pela possibilidade de surfar na chegada messiânica da maquiadora ao topo. Que fique bem claro: isso não necessariamente significa uma busca por popularidade, já que ele não precisa disso. Uma música dessas serve mais como uma busca de validação – como quando divulgamos a nossa opinião nas redes sociais sobre algum assunto óbvio só para mostrar o nosso lado. Em outras palavras, “Juliette, Mon Amour” funciona como aquele seu story rechaçando mais um absurdo de Bolsonaro ou aquela notícia chocante que todo mundo tá comentando e todos na sua bolha de amizades tem um lado óbvio e único.
Ao analisar a letra da música, fica ainda mais evidente que “Juliette, Mon Amour” é um tweet de apoio que foi esticado até virar canção. Carlinhos solta frases de amor para Juliette em diversas línguas e, como em um episódio de Black Mirror, afirma que “a ama de paixão e a espera para um abraço fora da televisão”. A verdade é que, mesmo que não se goste de Juliette ou da conduta dela durante o programa Big Brother Brasil, é difícil não se compadecer com as expectativas que as pessoas criaram em cima dela. Muito provavelmente ela pensou que sairia do reality show com uma fama suportável, mas terminou com mais de 30 milhões de seguidores no Instagram e até contrato para produzir um EP, que vinha sendo criado enquanto ela ainda estava confinada.
Não há melhor (ou pior, na verdade) amostra do maluco culto à personalidade de uma pessoa que fez nada de mais em um programa do que “Juliette, Mon Amour”. É um pop reggae irritante, superficial e já veio com prazo de validade vencido. Como alguma voz da minha cabeça diz sempre que penso nesses assuntos, “pior que uma música de Juliette, só uma música sobre a Juliette”.
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